A sociedade moderna é doente, esta tão distante do ser original, espontâneo, natural, que seus valores estão completamente invertidos. O homem moderno sofre é de saudade do primitivismo, quando o simples e singelo era grandioso, e a vida fluía muito mais tranqüila e despreocupada.
Sofremos de nostalgia da vida natural, e ao mesmo tempo, já não conseguimos conceber uma vida sem o conforto da vida moderna, sem o celular, a internet, o carro, o elevador, etc.
É um conflito instalado na mente e coração do ente moderno:
“eu quero o campo, quero ar puro, quero comida natural e vitalizante, água fresca e cristalina, quero paz, mas como levar a cidade junto comigo?”
O homem primitivo revela a graça da celebração, e isto esta perdido no homem moderno, para o homem da cidade celebrar é se empanturrar de comida, nada saudável diga-se de passagem, é buscar algum tipo de fuga para as mazelas da rotina tresloucada, palavra que para mim significa loucura multiplicada por três, família -tradição –propriedade, as bases da sociedade repressora e patriarcal.
O homem da natureza, da tribo, é o homem da celebração viva, da ciranda, do circulo, do canto e da dança, dos ritos orgásticos, é o homem da pele, do prazer e do riso puro, praticamente sem motivo.
Estar vivo já é o grande motivo.
Como pode o homem moderno manter um estado de bem-aventurança e alegria? Com tantos afazeres, tantos compromissos, tanto corre-corre, tantas contas para pagar? Como pode existir qualquer tipo de euforia mística, quando a religião é uma propaganda e uma promessa continua de bens seguros, garantidos pelo investimento em dízimos?
O homem moderno é um macaco triste engaiolado a própria vontade por já não saber como é viver fora da jaula. Cabisbaixo repete as máximas de uma doutrina de medo e repressão que é tudo o que ele viu e aprendeu. Destas máximas, as mais “engraçadinhas” também são as mais cruéis, acha graça e ri da própria tortura auto-imposta e repetida mecanicamente desde a tenra idade!
Um exemplo? Aquela frase de efeito que se utiliza quando as coisas não saem do jeito que gostaríamos, é comum exclamar:
“ih dancei!”, “fulano de tal dançou bonito!”, não, não, não, mil vezes não!
Quando as coisas dão erradas, a última coisa que fazemos é dançar, alias, não dançamos nem quando as coisas dão certo!
A dança foi colocada no lugar errado, dançamos quando temos motivos para celebrar, e para quem sabe o sentido de viver, celebração é todo dia, todo dia é dia de agradecer e sorrir, mesmo quando a dor transpassa o peito, agradeço, pois estou vivo para sentir esta dor com toda a sua majestosa presença!
A desgraça vem e nós a chamamos de dança, enquanto a dança é o próprio estado de graça, de beatitude. A celebração foi ridicularizada, foi colocada como algo menor, celebração e prazer rebaixados a infortúnio, inferior( e o inferior leva ao inferno)exagero meu?
Perdoem-me as palavras consideradas chulas, mas é inevitável, quando tudo vai mal, costuma-se dizer: esta foda, estou fudido, oras não são estas palavras que remetem ao sexo? Ao prazer?
O individuo que celebra, que vive seu prazer com liberdade é mal visto dentro da sociedade doente, se todos sofrem, como alguém pode ter direito ao riso? A celebração? Ele não deve ser bom da cabeça, deve ser um louco, um irresponsável, com certeza esta não é uma pessoa confiável.
Para ser confiável ela deve ser séria, carrancuda, fechada e um tanto infeliz. Estes são os elementos que garantem uma pessoa de caráter, de moral, claro, todo moralista é um chato de galocha, a galocha é um tipo de calçado, de botas, aquelas que se usa nos dias chuvosos, sim para o chato moralista todo dia é nublado, e ele precisa proteger os seus pés, uma boa capa de chuva, um guarda-chuva negro imenso e uma cara sisuda, bem feia.
Para o homem natural os dias são mais ensolarados, e quando a chuva cai, é uma ótima oportunidade para dançar descalço na grama, louvando o dom das águas que descem para lavar a Terra.
Dançar e enamorar-se ficaram tão dificilmente desconfortáveis e antinaturais para o homem moderno, que só bebendo muito e inventando datas “especiais” para poder viver um pouquinho do que experimentaram nossos antepassados, os mais longínquos que você possa imaginar, já que o que chamo de sociedade moderna representa séculos de vida nas grandes cidades e fora da natureza.
A pessoa celebrante, jubilosa, apaixonada é considerada mundana, uma irresponsável, uma profana e profanadora, estas qualificações fazem com que todos tenham medo da fofoca, e se esforcem por manter uma imagem adequada e condizente com os valores impostos por outrem. Valores que visam manter as massas como cordeiros mansos aceitando a pirâmide social, sem questionar e pior contribuindo para sustentá-la, esforçando-se para subir nela ou ansiando por uma próxima reencarnação com um melhor “pedigree”.
Realmente a pessoa original, natural, intensa é mundana, só ela esta no mundo de verdade, os demais vivem dentro de um faz de contas em busca do reinado da segurança. Um mundinho artificial e barulhento.
O prazer liberta, a dança nos enriquece interiormente, a vida livre e solta acompanhando o compasso, o ritmo da musicalidade da natureza, nos faz plenamente mais satisfeitos com nossa realidade interior e com desejo de compartilhar e amar sem hierarquias, e isto não enche os cofres, não enche as igrejas, não proporciona busca incansável de bens de consumo que prometem êxtases divinos, promessa que nunca é cumprida!
Em síntese feliz você consome menos, ponto.
Se a sua vida é uma eterna dança de celebração, se você esta satisfeito, enamorado, se você experimenta o orgasmo da existência, e apaixonado beija as flores do campo assim como o beija-flor que livre vive a voar, você esta vivendo, vou repetir, você esta vivo!
E se você considerar-se vivo, como você gastará uma fortuna em comprimidos e drogas legalizadas e também as ilegais?Aliás, consideradas ilegais porque não existem impostos e taxas para engordar os cofres de poucos, mas servem a outros propósitos que invariavelmente vão render boas quantias de vil metal!
Se sua vida é gratidão, dança, amor, liberdade você esta vivo, repetirei isto incansavelmente, pois a promessa do mestre é vida abundante, o amor nos convida a viver com abundancia e prosperidade, e com simplicidade tudo fica mais simples.
Sério, melhor, sério não, brincadeira, se sua idéia sobre abundancia e prosperidade for o de acumular, você nunca estará suficientemente pleno, mesmo porque, a cada dia inventa-se uma bugiganga nova “indispensável para a vida”, as necessidades básicas vão sendo assomadas por variadas tecnologias e objetos sem valor intrínseco a vida. O básico já não é tão básico assim.
O que faz a vida plena é o sentido que damos a ela, encontre o seu sentido de viver (cada um tem o seu) e você terá encontrado uma fonte inesgotável de felicidade, abundancia e prosperidade, e então será fácil, celebrar e dançar, amar e viver.
Amar é viver, e quem não esta amando, esta morto, só falta enterrar.
Sim eu dancei, com toda alegria e gratidão, eu danço!
Vajrananda (Diógenes Mira)
*O sonho da casa própria e do modelinho papai+ mamãe+filhinhos, é um embuste e mantém o jogo de poder piramidal, comunidade é a resposta dentro e principalmente fora das grandes cidades.
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Este post é minha homenagem ao amigo Diógenes Mira que colocou esse texto na comunidade "Ayahuasca Brasil" no dia 12 de Março de 2009. Felicitações Diógenes.... Continuemos dançando...
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