* Nota dos Editores:
No poema a seguir, a ideia de “matéria-prima elementar” corresponde ao conceito teosófico e oriental de “mulaprakriti”, a matéria sutil e primordial, a matéria indiferenciada, a luz astral - o “akasha” hindu.
Os versos concluem com uma referência ao círculo infinito, o círculo de Pascal, “cuja circunferência não
está em parte alguma, e cujo centro está em todas as partes”. Helena P. Blavatsky alertou para o fato de que, embora este conceito seja atribuído a Pascal, na verdade ele foi concebido antes pelo filósofo Nicolau de Cusa.
O poema foi publicado sem indicação de título na principal biografia de Augusto de Lima [1] . Ao descrever a chegada do final da vida do pensador brasileiro, o biógrafo escreve a seguinte introdução a estes versos cosmológicos:
“Nenhum dever lhe resta a cumprir. Nenhuma ambição o tortura. Nenhum remorso o atormenta. No crepúsculo que o envolve lentamente, sua arte readquire o tom solene do passado, e ele canta pela última vez: (...) ”
Que procuras no espaço, olhar faminto,
através das camadas siderais?
Réstia de luz, órfã de um foco extinto,
a que destino vais?
Que te falta em ti mesmo, ser inquieto?
Fração de um Todo excelso que não vês,
quando serás completo?
Hoje, amanhã, depois, nunca, talvez!
E, contudo, te exaures nas pesquisas
da fugitiva Essência. Esforço vão!
Ela, impalpável, voa sem balizas
na divina amplidão.
Se nem chegas ao sol, corpo tangível,
nem à matéria-prima elementar,
como podes prender o Incognoscível
e o Infinito abraçar?
Volve a ti mesmo. Prostra-te. Contrito,
tudo verás da Fé no esplendor.
Que importa que haja um círculo infinito,
se cada átomo é um centro refletor?
NOTA:
[1] “Augusto de Lima, Seu Tempo, Seus Ideais”, de José Augusto de Lima, 322 pp., Ministério da Educação e Cultura, RJ, 1959. Ver p. 318.
retirado do site: www.filosofiaesoterica.com