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terça-feira, 10 de novembro de 2015

EDUCAÇÃO COMO INSTITUIÇÃO POLÍTICA

por: Bertrand Russel - Junho de 1916

“A educação não deve visar uma consciência morta de fatos estáticos, mas uma atividade voltada para o mundo que os nossos esforços estão criando."


I

Nenhuma teoria política é adequada, a menos que seja aplicável para crianças assim como para homens e mulheres. Teóricos são, em sua maioria, sem filhos ou se tiverem filhos eles estão cuidadosamente protegidos das perturbações que seriam causadas pela turbulência juvenil. Alguns deles têm escrito livros sobre educação, mas sem no geral, ter filhos realmente presentes em suas mentes enquanto eles escreveram. Esses teóricos da educação que tiveram um conhecimento das crianças, tais como os inventores do kindergarten (Creche / Jardim da Infância) e do sistema Montessori, nem sempre tiveram realização suficiente do objetivo final da educação para serem capazes de lidar satisfatoriamente com a educação avançada. Eu não tenho o conhecimento nem de crianças e nem de educação que me permitiria apontar o que pode haver de defeitos no que os outros escreveram. Mas algumas questões relativas à educação como uma instituição política estão envolvidas em qualquer esperança de reconstrução social e normalmente não são consideradas pelos escritores da teoria educacional. Somente essas questões que eu gostaria de discutir.

Os dois princípios de justiça e de liberdade que cobrem uma grande parte da reconstrução social necessária não darão muita orientação em matéria de educação. Tolstoi tentou conduzir uma escola de aldeia sem infringir a liberdade, mas quando alguém além de Tolstoi estava ensinando todas as crianças conversavam umas com as outras e quando ele mesmo ensinava, ele só conseguia garantir a ordem ele “garantia a ordem” teoricamente tapando os ouvidos. É claro que uma adesão literal ao princípio da liberdade é completamente impossível se as crianças estão sendo ensinadas em qualquer coisa, a não ser no caso de crianças excepcionalmente inteligentes que são mantidas isoladas dos companheiros mais normais. Esta é uma das razões da grande responsabilidade que há sobre os professores: as crianças devem inevitavelmente estar mais ou menos à mercê dos mais velhos e não podem fazer-se os guardiões de seus próprios interesses. Autoridade na educação é até certo ponto inevitável e aqueles que educam tem que encontrar uma maneira de exercer a autoridade em conformidade com o espírito de liberdade.

Onde a autoridade é inevitável o que é necessário é a reverência. Um homem que tem uma boa educação, aquela que extrai do jovem tudo que é possível extrair, que o faz crescer e se desenvolver plenamente, estes devem ser preenchidos através e com o espirito de reverência. É reverência que falta naqueles que defendem sistemas feitos como máquina de ferro fundido: militarismo, capitalismo, Fabianismo, e todas as outras prisões nas quais os reformistas e os reacionários tentam forçar o espírito humano. Na educação, com seus códigos de regras emanadas de um escritório do governo, com suas salas lotadas, currículo fixo e professores sobrecarregados de trabalho com sua determinação de produzir um nível morto de loquaz mediocridade, a falta de reverencia da criança é quase universal. A reverência exige imaginação e calor vital. Ela requer mais imaginação em relação àqueles que têm menos autoridade real ou poder. A criança é fraca e superficialmente tola, o professor é forte e no sentido mais correto do termo ele é mais sábio do que a criança. O professor ou burocrata sem reverencia, facilmente despreza a criança por causa de sua aparente inferioridade. Ele acha que é seu dever "moldar" a criança, se veem como oleiros com o barro. E assim dá à criança uma forma antinatural que vai cristalizando com a idade e produzindo as tensões e os descontentamentos espirituais além de aumentar a crueldade, a inveja e a opinião que o outro deve ser compelido a se submeter às mesmas distorções.

O homem que tem reverência não vai pensar que é seu dever “moldar” o jovem. Ele sente que em tudo o que vive, mas especialmente em seres humanos e acima de tudo em crianças, há algo sagrado, indefinível, ilimitado, algo individual e estranhamente precioso, o princípio crescente de vida, um fragmento encarnado da estúpida luta do mundo. Ele sente uma humildade inexplicável na presença de uma criança, uma humildade que não é facilmente baseada em qualquer fundamento racional, mas que de alguma forma é mais proxima da sabedoria do que da fácil autoconfiança de muitos pais e professores. Ele sente o desamparo aparente da criança, o apelo de dependência, a responsabilidade de uma relação de confiança. Sua imaginação lhe mostra o que a criança pode tornar-se, para o bem ou o mal. Como seus impulsos podem ser desenvolvidos ou frustrados, como suas esperanças podem ser reguladas e trazer uma vida medíocre, como sua confiança vai ser machucada e seus desejos rapidamente substituídos por uma enxurrada de vontade. Tudo isso lhe fornece um desejo de ajudar a criança em sua própria batalha para fortalecê-la e equipá-la e não para algum fim que seja proposto pelo Estado ou por qualquer outra autoridade impessoal, mas para os fins que o espírito da própria criança está buscando. O homem com esses sentimentos pode exercer a autoridade de um educador sem violar o princípio da liberdade.

Não é em espírito de reverência que a educação é conduzida pelos estados, igrejas e pelas grandes instituições que são subservientes a eles. O que é considerado na educação é quase nunca o menino ou menina, o rapaz ou moça, mas quase sempre, de alguma forma, a manutenção da ordem existente. Quando o indivíduo é considerado é visando o sucesso material: ganhar dinheiro ou alcançar uma boa posição. Ser comum e adquirir a arte da conquista são as ideias incutidas nas mentes jovens, exceto por alguns raros professores que têm energia suficiente em suas crenças para romper o sistema dentro do qual se espera que trabalhem. Quase toda a educação tem uma motivação política: ela visa reforçar algum grupo nacional, religioso ou mesmo sociais na competição com outros grupos. É este motivo principalmente que determina as matérias ensinadas, o conhecimento que é oferecido, e o conhecimento que é retido. É este o motivo também que determinam os hábitos mentais que esperam que os alunos adquiram. Quase nada é feito para promover o crescimento da mente e do espírito. Na verdade, aqueles que tiveram mais educação são muitas vezes atrofiados em sua vida mental e espiritual, desprovidos de impulsos e possuindo apenas certas aptidões mecânicas que tomam o lugar do pensamento vivo.

II

Algumas das coisas que a educação atingiu no presente devem continuar a ser alcançadas por meio da educação em qualquer país civilizado. Todas as crianças devem continuar a ser ensinadas a ler e escrever e algumas devem continuar a adquirir o conhecimento necessário para profissões como medicina, direito e engenharia. Exceto em matérias como história e religião o ensino atual é apenas inadequado, não prejudicial. O ensino pode ser dado em um espírito mais liberal com mais tentativa de mostrar seu uso final e, claro, o que é tradicional ou morto. Mas em essência é necessário e deveria ser parte de qualquer sistema de ensino.

É na história e religião e outros temas controversos que o ensino atual é prejudicial. Estes assuntos tocam os interesses pelos quais as escolas são mantidas e os interesses mantêm as escolas, a fim de que certos pontos de vista sobre estes assuntos possam ser ensinados. Em cada país, Historia é ensinada visando ampliar esse país: as crianças aprendem a acreditar que seu próprio país tem sido sempre correto e quase sempre vitorioso, que produziu quase todos os grandes homens e que é em tudo superior a todos os outros países. Uma vez que essas crenças são lisonjeiras, elas são facilmente absorvidas e quase nunca desalojadas do instinto pelo conhecimento mais tarde.

Para exemplificar de forma simples e quase trivial: os fatos sobre a batalha de Waterloo são conhecidos em grande detalhe e com precisão cirúrgica, mas os fatos como ensinadas nas escolas de ensino fundamental serão amplamente diferentes na Inglaterra, França e Alemanha. Se os fatos fossem ensinados com precisão nos países o orgulho nacional não seria promovido na mesma medida e nenhuma nação se sentiria convicta da vitória em caso de guerra e a vontade de lutar seria diminuída. É este resultado que deve ser impedido. Cada estado deseja favorecer o orgulho nacional e está consciente de que isso não pode ser feito pela história imparcial. As crianças indefesas são ministradas por distorções, supressões e sugestões. As ideias falsas a respeito da história do mundo que são ensinadas nos diferentes países são de um tipo que promove lutas e serve para manter vivo um nacionalismo intolerante. Se as boas relações entre estados fossem almejadas, um dos primeiros passos deveria ser o de submeter todo o ensino da história a uma comissão internacional que deveria produzir livros neutros livres do viés patriótico que há em todos os lugares.

Exatamente a mesma coisa se aplica à religião. As escolas primárias estão praticamente sempre nas mãos seja de algum corpo religioso ou de um Estado que tem uma atitude definitiva em relação à religião. Um grupo religioso existe pelo fato de que todos os seus membros têm certas crenças definitivas sobre temas como o que é verdade ou não. Escolas mantidas por entidades religiosas têm que brecar os jovens, que são muitas vezes curiosos por natureza, de descobrirem que essas crenças definidas são opostas de outras crenças igualmente definidas e que muitos dos homens mais qualificados para julgar pensam que não há boas evidências em favor de qualquer crença. Quando o estado é militante secular, como na França, escolas estaduais tornam-se tão dogmáticas como aquelas que estão nas mãos das igrejas. Eu entendo que a palavra "Deus" não deve ser mencionada em uma escola primária francesa. Quando o estado é neutro, como na América, toda a discussão religiosa tem que ser excluída e a Bíblia deve ser lida sem comentários para que o comentário evite favorecer uma seita ao invés vez de outra. O resultado em todos esses casos é o mesmo: a livre investigação está prejudicada, e uma das questões mais importantes no mundo da criança é recebida com dogma ou com um silêncio sepulcral.

Não é só no ensino fundamental que existem esses males. Na educação mais avançada eles tomam formas mais sutis e não há mais tentativa de escondê-las, mas elas ainda estão presentes. Eton e Oxford definem um determinado selo sobre a mente de um homem, assim como um colégio jesuíta faz. Dificilmente pode-se dizer que Eton e Oxford têm um propósito consciente, mas eles têm uma finalidade que é menos forte e eficaz para não ser formulada. Em quase todos os que passam por eles, eles produzem um culto de "bons modos", que é tão destrutivo para a vida e o pensamento, como a Igreja medieval. "Bons modos" são bastante compatíveis com a superficialidade da mente aberta, com disposição para ouvir todos os lados, com certa diplomacia para com os adversários. Mas isso não é compatível com mentes abertas em essência, ou com qualquer disposição interna para considerar o outro lado. Sua essência é a suposição de que o que é mais importante é certo tipo de comportamento: um comportamento que minimiza o atrito entre iguais e delicadamente impressiona inferiores com uma convicção da sua própria crueza. Como uma arma política para preservar os privilégios dos ricos em uma democracia arrogante, isso é insuperável... Como um meio de produzir um ambiente social agradável para aqueles que têm dinheiro, sem fortes crenças ou desejos incomuns, tem algum mérito. Em todos os outros aspectos, é abominável.

Os males dos "bons modos" surgem de duas fontes: a perfeita garantia da sua própria retidão, e de sua convicção de que os bons modos são mais desejáveis ​​do que o intelecto, a criação artística, a energia vital ou qualquer uma das outras fontes de progresso no mundo. A perfeita segurança por si só já é suficiente para destruir todo o progresso mental em quem o tem. E quando ele é combinado com desprezo para as irregularidades e constrangimento que são quase sempre combinados com grande poder mental, torna-se uma fonte de destruição a todos os que entram em contato com ele. "Bons modos" é o próprio morto, estático, incapaz de crescimento e por sua atitude para com aqueles que não tem bons modos, ele espalha a sua própria morte para muitos que de outra forma poderiam ter vida. O dano que ele tem feito para os ingleses influentes, e para os homens cujas habilidades levaram essas pessoas influentes a notá-los, é incalculável.

A prevenção da livre investigação é inevitável, uma vez que o propósito da educação tem sido produzir crença em vez de pensamento, obrigando os jovens a terem opiniões positivas sobre questões duvidosas em vez de deixá-los ver a dúvida e ser encorajados a independência de espírito. A educação deve fomentar o desejo pela verdade e não a convicção de que algum credo particular é a verdade. Mas são os credos que mantêm os homens unidos em organizações: igrejas, estados e partidos políticos. É a intensidade da crença em um credo que produz a eficiência no combate: a vitória vem para aqueles que se sentem mais fortes convictos sobre assuntos sobre os quais a dúvida seria a única atitude racional. Para produzir essa intensidade de crença e essa eficiência em combate, a natureza da criança é deformada e suas perspectivas livres são restringidas, as inibições são cultivadas a fim de assegurar o crescimento de novas ideias. Naqueles que não tem a mante muito ativa o resultado é totalmente prejudicial, enquanto que naqueles onde o pensamento não pode ser completamente morto se tornam cínicos, intelectualmente sem esperança, críticos destrutivos e tudo o que fazem parece tolo e se tornam incapazes de fornecer seus próprios impulsos criativos os quais eles mesmos destroem nos outros.

III

Certos hábitos mentais são comumente incutidos por aqueles que estão envolvidos na educação: a obediência e disciplina, crueldade na luta pelo sucesso material, desprezo para com grupos de oposição e uma credulidade cega, uma aceitação passiva da sabedoria do professor. Todos esses hábitos são contra a vida. Em vez de obediência e disciplina, devemos ter por finalidade preservar a independência e impulso. Em vez de crueldade, a educação deve visar à produção de justiça no pensamento. Em vez de desobediência, deveria incutir reverência e tentativa de compreensão- não necessariamente concordância, mas com a oposição combinada com percepção imaginativa e clara compreensão dos motivos para opor-se. Em vez de credulidade, o objeto deve ser estimular a dúvida construtiva, o amor por aventuras mentais, o sentido de conquistar o mundo pela iniciativa e ousadia em seus pensamentos. Indiferença com o status quo, a subordinação do aluno para fins políticos e indiferença para com as coisas da mente são as causas imediatas desses males, mas sob essas causas há uma mais fundamental que é o fato de que a educação é tratada como um meio de adquirir poder sobre o aluno e não como um meio de promover seu próprio crescimento. É nisso que a falta de reverencia se releva e é somente através de mais reverencia que a reforma fundamental pode ser realizada.

Obediência e disciplina são indispensáveis para manter a ordem em uma classe e transmitir qualquer instrução. Até certo ponto isso é verdade. Mas a medida é muito inferior ao que é idealizado por aqueles que consideram a obediência e disciplina em si mesma como indispensáveis. Obediência, o ato de ceder sua vontade para ir à outra direção é a contra partida da autoridade que consiste em dirigir a vontade dos outros. Pode ser necessário como em casos de crianças refratárias, lunáticos e criminosos. Estes exigem autoridade e podem ser obrigados a obedecer. Mas ainda que nesses casos seja necessário é uma tragédia. O que é desejável é a livre escolha de caminhos com as quais não é necessária interferência. E reformadores educacionais têm mostrado que isso é muito mais possível do que nossos pais jamais teriam acreditado.

O que faz a obediência parecer necessária nas escolas são as classes superlotadas e professores sobrecarregados de trabalho sendo exigidos por uma falsa economia. Aqueles que não têm experiência no ensino são incapazes de imaginar o desgaste de espírito provocado por qualquer que esteja realmente vivendo o ensino. Eles esperam que os professores possam trabalhar como bancários. O resultado é fadiga intensa, nervos irritáveis e uma necessidade absoluta de executar todas as tarefas do dia mecanicamente. E a tarefa não pode ser realizada mecanicamente a não ser que seja exigida a obediência.

Se tomarmos a educação a sério, pensaremos que ela é tão importante para manter viva a mente das crianças como para garantir a vitória na guerra. Devemos conduzir a educação de forma bastante diferente: devemos certificar-nos de atingir o fim, mesmo que o custo seja cem vezes maior do que é. Para muitos homens e mulheres, uma pequena quantidade de ensino é um deleite e pode ser feito com um entusiasmo fresco e vida que mantém a maioria dos alunos interessados, sem qualquer necessidade de disciplina. Os poucos que não se interessarem podem ser separados do resto e receber um tipo diferente de instrução. Um professor deve oferecer tanto quanto pode e, na maioria dos dias, com prazer real no trabalho e com a consciência das necessidades mentais dos alunos. O resultado será uma relação de amizade em vez de hostilidade entre professor e aluno. Uma realização para que a educação sirva para desenvolver as próprias vidas dos alunos e não ser meramente uma imposição de fora interferindo no jogo e exigindo muitas horas sentadas. Tudo o que é necessário para esse efeito é um maior investimento de dinheiro para proporcionar ao professor mais tempo livre e com um amor natural pelo ensino.

Disciplina, tal como existe nas escolas, é em grande parte um mal. Há um tipo de disciplina que é necessária para quase todas as realizações, e que talvez não seja suficientemente valorizada por aqueles que reagem contra a disciplina puramente externa de métodos tradicionais. O tipo desejável de disciplina é o tipo que vem de dentro, que consiste no poder de perseguir um objeto distante de forma constante, antecipando e sofrendo muitas coisas no caminho. Isso envolve a subordinação da força de vontade, o poder de dirigir a ação por grandes desejos criativos mesmo nos momentos em que eles não são nitidamente vivos. Sem isso nenhuma ambição séria, boa ou má pode ser realizada e nenhum propósito consistente pode dar resultados. Este tipo de disciplina é muito necessário, mas somente será resultado de fortes desejos pelos fins não imediatamente atingíveis e pode ser produzido apenas através da educação, isso se esta educação promover esses desejos o que raramente acontece no presente. Este tipo de disciplina brota de dentro, a partir da própria vontade e não de autoridade externa. Não é esse tipo que é exigido em escolas e não é este o tipo que me parece um mal.

Implacabilidade na luta econômica será quase inevitavelmente ensinado nas escolas, enquanto a estrutura econômica da sociedade permanecer inalterada. Particularmente é o caso das escolas de classe média que dependem de seus números para agradar os pais e garantir que essa satisfação venha através do sucesso de seus alunos. Esta é uma das muitas maneiras em que a organização competitiva do estado é prejudicial. Desejo espontâneo e desinteressado por conhecimento não é de todo incomum nos jovens e é facilmente despertado em muitos em quem ele permanece latente. Mas é impiedosamente marcado por professores que só pensam em exames, diplomas e graduações. Para os meninos mais capazes, não há tempo para o pensamento e não há tempo para a indulgência de gosto intelectual desde o momento da primeira ida para a escola até o momento de deixar a universidade. Do primeiro ao último dia é simplesmente um longo e penoso trabalho de dicas de exames e fatos sobre livros didáticos. No final, os mais inteligentes criam aversão à aprendizagem, desejando apenas esquecê-la e fugir para uma vida de ação. No entanto há, como sempre, a máquina econômica que os mantém presos assim como todos os seus desejos espontâneos que são machucados e frustrados.

O sistema de testes e exames e o fato de que a educação é tratada inteiramente como treinamento para a vida, leva os jovens a considerar o conhecimento a partir de um ponto de vista puramente utilitário, como a estrada para o dinheiro e não como a porta de entrada para a sabedoria. Isso não importa muito se afeta apenas aqueles que não têm interesses intelectuais genuínos. Mas, infelizmente afeta a maioria daqueles cujos interesses intelectuais são mais fortes, uma vez que é sobre eles que a pressão dos exames cai com mais severidade. Para a maioria deles, mas a todos em algum grau, a educação aparece como um meio de adquirir superioridade sobre os outros. Ele está infectado através da crueldade e a glorificação da desigualdade social. Qualquer consideração desinteressada mostra que dissolver as desigualdades pode proporcionar uma Utopia. As desigualdades reais são quase todos contrárias à justiça. Mas nosso sistema educacional vai esconder isso de todos, exceto as falhas, uma vez que aqueles que têm sucesso o conseguem encontrando uma maneira de lucrar com as desigualdades e o faz com todo o apoio dos homens que têm norteado a sua educação.

IV

A aceitação passiva da sabedoria do professor é fácil para a maioria dos meninos e meninas. Ela envolve nenhum esforço de pensamento independente, parece racional porque o professor sabe mais do que os seus alunos e é o caminho para ganhar o prestigio do professor a menos que ele seja um homem muito excepcional. No entanto, o hábito da aceitação passiva é um desastre na vida adulta. Isso faz com que os homens que procuram um líder aceitem como líder quem já está estabelecido nessa posição. É isso que faz o poder de igrejas, governos, bancadas partidárias e todas as outras organizações pelas quais os homens simples são enganados ao apoiar sistemas antigos que são prejudiciais para a nação e para si mesmos. É possível que não houvesse muita independência de pensamento, mesmo que a educação fizesse de tudo para incentivá-la, mas certamente haveria mais do que há hoje. Se o objeto fosse fazer os alunos pensar ao invés de fazê-los aceitar certas conclusões, a educação seria conduzida de forma bastante diferente: haveria menos rapidez de ensino, mais discussão, mais estimulo e ocasiões para que o aluno pudesse se expressar mais tentativa de fazer o ensino preocupar-se com assuntos dos quais os alunos sentiriam algum interesse. Acima de tudo, haveria um esforço para despertar e estimular a aventura mental. O mundo em que vivemos é diferente e surpreendente: algumas das coisas que parecem mais simples se tornam mais difíceis quanto mais elas são consideradas. Outras coisas, que poderiam ter sido consideradas indiscutíveis, foram expostas pelos gênios e pela indústria dos homens da ciência. O poder do pensamento, as vastas regiões que ele pode dominar, as vastas regiões muito além das quais ele poderia vagamente imaginar, dão àqueles cujas mentes tenham ido além da rotina diária, uma riqueza incrível de material, uma fuga da banalidade e o escape de rotina familiar, pois toda a vida é cheia de interesse e as paredes da prisão do "trivial" são derrubáveis. O mesmo amor pela aventura que leva os homens ao Pólo Sul, a mesma paixão por demosntração de força que faz com que alguns homens sejam aceitos em guerras, este mesmo amor pode encontrar no pensamento criativo uma saída que não seja imoral ou cruel mas cheia de proveito e integralmente humana, aumentando a dignidade do homem e enchendo a vida com esse explendor luminoso do qual o espírito humano está tão necessitado. Proporcionar esta alegria em maior ou menor medida a todos que sejam capazes é o fim supremo pelo qual a educação da mente deve ser avaliada.

Será dito que a alegria da aventura mental deve ser rara, que são poucos os que podem apreciá-la e que a educação comum não leva em conta tanta nobreza. Eu não acredito nisso. A alegria da aventura mental é mais comum agora no jovem do que nos homens e nas mulheres adultas. Entre as crianças é muito comum e cresce naturalmente no período de faz de conta e fantasia. É raro na vida adulta porque tudo é feito para matá-lo durante a educação. Os homens temem o pensamento assim como temem tudo o mais na Terra, temem mais que a ruína e mais até do que a morte. O pensamento é subversivo e revolucionário, destrutivo e terrível. O pensamento é impiedoso com privilégios, instituições estabelecidas e hábitos confortáveis. O pensamento é anárquico e sem lei, indiferente à autoridade, descuidado da sabedoria já bem demonstrada de todas as épocas. Pensamento. O pensamento real olha para o abismo do inferno e não tem medo. Ele vê o homem, um pontinho fraco, cercado por profundezas insondáveis ​​de silêncio e no entanto em si carrega o orgulho e impassividade como se fosse senhor do universo. O pensamento é grande, rápido e gratuito. A luz do mundo, e a principal glória do homem.

Mas se o pensamento se tornar a posse de muitos e não o privilégio de poucos, sera feito com medo. É o medo que mantém homens de volta: medo de que suas crenças mais preciosas se provem ilusões, medo de que as instituições pelas quais vivem se relevem prejudiciais, medo de que eles mesmos sejam menos dignos do respeito que eles supostamente deveriam ter. Deveria o homem que trabalha pensar livremente sobre a propriedade? Então, o que seria de nós, os ricos? Deveriam os jovens, homens e mulheres pensar livremente sobre sexo? Então, o que seria da moralidade? Deveriam os soldados pensar livremente sobre a guerra? Então, o que seria da disciplina militar? Acabe com o pensamento! De volta para as sombras para que a propriedade, a moral e a guerra não sejam postas em perigo! Melhor é que os homens sejam estúpidos, preguiçosos e opressivos do que seus pensamentos livres. Porque, se os seus pensamentos estiverem livres, eles podem não pensar como nós e de toda forma essa catástrofe deve ser evitada. Assim argumentam os adversários do pensamento nas profundezas inconscientes de suas almas, e assim eles agem em suas igrejas, suas escolas e suas universidades.

Nenhuma instituição inspirada pelo medo pode favorecer a vida. Esperança, não medo, é o princípio criativo nos assuntos humanos. Todos os feitos grandes do homem surgiram da tentativa de proteger o que é bom e não a partir da luta para evitar o que foi pensado mal. É por isso que a educação moderna é tão raramente inspirada por uma grande esperança que ela tão raramente consegue um grande resultado. O desejo de preservar o passado em vez da esperança de criar o futuro domina as mentes daqueles que controlam o ensino dos jovens. A educação não deve visar uma consciência morta de fatos estáticos, mas uma atividade voltada para o mundo que os nossos esforços estão criando. Deve ser inspirada não por um anseio saudoso das belezas extintas da Grécia e da Renascença, mas por uma visão brilhante da sociedade que está acontecendo, do triunfo que o pensamento vai alcançar no tempo vindouro e do horizonte cada vez maior que homem tem sobre o universo. Aqueles que são ensinados com este espírito serão preenchidos com a vida, esperança e alegria, capazes de suportar a sua responsabilidade em trazer à humanidade um futuro menos sombrio do que o passado, com a fé na glória que o esforço humano pode criar.

Fonte do artigo original em inglês aqui:

* O tradutor não é profissional, pediu-nos para permanecer anônimo e alertou que o texto consumiu tempo e esforço devido a complexidade de assunto e antecipadamente pede desculpas por possíveis erros de interpretação.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

OLAVO DE CARVALHO, MEU PROFESSOR

"Não acredito que, pelos próximos trinta ou quarenta anos, apareça nesta país alguém qualificado para fazer uma “análise” – muito menos uma “análise crítica” – do meu trabalho de filósofo, escritor e educador. O material que o documenta é tão vasto, inabarcável e caótico – nove décimos inédito em livros e espalhado em apostilas e gravações de aulas --, que só alcançar uma visão de conjunto da sua estrutura material já é esforço para uma vida inteira. Se não fizeram esse esforço nem com a obra do Mário Ferreira dos Santos, que é muito mais valiosa e pelo menos está praticamente toda impressa em livros –, por que vão fazer com a minha? Pior: o Mário situa-se claramente em algum ponto da história do pensamento, que o Pe. Carlo Beraldo descreveu como uma síntese – quase impossível, aliás – de pitagorismo e tomismo, ao passo que tudo o que pensei, disse e escrevi foi sempre em resposta a uma situação cultural e existencial imediata, sem a menor preocupação de me definir nos termos de alguma corrente ou tradição.

Na verdade, sempre tive horror visceral de “problemas filosóficos” genéricos, colocados como grandes questões teóricas independentes do local e do tempo. Se algo aprendi com a filosofia espanhola de José Ortega y Gasset e Julian Marías, a cuja leitura deslumbrada consagrei tantas horas na minha juventude, é que toda pergunta formulada urbi et orbi não tem sentido nenhum exceto aquele que cada um lhe atribua desde a circunstância histórica e biográfica muito peculiar que é a sua. Então por que não abandonar logo as grandes perguntas e dedicar-nos a buscar uma orientação nessa circunstância, a compreender os fatores que determinam o curso da nossa vida, moldam a nossa personalidade e geram, no mais das vezes sem que o percebamos, as nossas “opiniões”?

Não foi dessa maneira, afinal, que a filosofia começou? Um aspecto que chama a atenção nos diálogos socráticos é que o filósofo jamais parte das alturas gerais de uma questão pronta, mas extrai as questões da própria situação de discurso em que se confronta com seus concidadãos atenienses. Não é isto uma exigência elementar decorrente do nosce te ipsum? Como posso conhecer-me a mim mesmo se tudo o que faço é discutir pontos consagrados na bibliografia filosófica e, mais ainda, se o faço não desde o empenho pessoal de orientar-me na existência, mas desde um papel social pronto, com um regulamento, um plano de carreira e critérios estabelecidos de aceitação e sucesso no meu grupo profissional, se não também numa patota ideológica?

A filosofia tal como a encontrei em Sócrates era o processo pelo qual uma consciência se apropriava de si mesma e da sua situação na existência, buscando cada vez mais uma atitude responsável perante o conhecimento e a vida. Esse processo era evidentemente inseparável do desenvolvimento da personalidade, da absorção e integração das várias dimensões da vida psíquica, incluindo as paixões e o “inconsciente”, mas também as correntes de idéias e opiniões em circulação, que infectam as cabeças sem que estas tenham o menor controle sobre as influências recebidas (chegou-se ao cúmulo de que uma coisa chamada “consciência crítica” se tornasse ela própria um dos meios mais eficientes de espalhar infecções). O filósofo era alguém no qual, em todas as circunstâncias da vida pessoal e pública, uma consciência centrada e senhora de si predominava sobre a confusão interna e externa e contribuía, de algum modo, para restaurar a ordem nas almas em torno.

A filosofia como “profissão”, tal como se exercia nas nossas universidades, não apenas nada tinha a ver com isso mas era quase uma garantia de que a filosofia no seu sentido originário não poderia caber ali de maneira alguma, exceto talvez como idiossincrasia de esquisitões perfeitamente deslocados do ambiente.

Tudo isso já estava claro para mim aos vinte e poucos anos. Mais tarde aprendi em Eric Voegelin que o surgimento da filosofia na Grécia, perdida a síntese da “civilização cosmológica”, respondia à necessidade de buscar a ordem na sociedade por meio da ordem na alma do filósofo, mas isso só confirmava algo que pessoalmente eu já estava buscando fazia tempo.

Sir Michael Dummett define a filosofia como uma atividade “para pessoas que gostam de argumentos abstratos”, e o prof. Gianotti como “um trabalho com textos”. Um sujeito pode terçar argumentos abstratos e analisar textos pelo resto da sua vida sem amadurecer nem um pouco no sentido da consciência integrada, da “ordem na alma”. O que ele faz pode ter “algo” a ver com a filosofia, mas não é filosofia de maneira alguma. O que aí se chama de filosofia é, na melhor das hipóteses, uma ocupação de nerds escrupulosos que não toleram um erro de lógica ou uma citação capenga, mas permanecem existencialmente atrofiados, incapazes de apreender as mais óbvias motivações das suas palavras e as implicações mais inevitáveis das suas atitudes na sociedade.

A ordem na alma é, com certeza, um tipo de “perfeição”, mas não no sentido de uma completude final e sim de uma integração dinâmica, algo que se aproxima menos da imagem estática de uma jóia bem lapidada que da do músico que, nota após nota, vai reencontrando a unidade da frase ainda não terminada. Não é a perfeição da coisa perfeita, mas de um contínuo perfazer-se que nunca se perfaz.

A Igreja bem viu que as virtudes espirituais não florescem antes das cardeais, ou naturais – prudência ou sapiência, temperança, força e justiça. Mas era evidente, para mim, que estas não se acumulavam como dons separados, e sim giravam em torno de uma consciência centrada e responsável, como meros aspectos abstraídos de uma realidade concreta. No sentido originário, a palavra “virtude” não designa um bom hábito, mas uma força, um poder que vem de dentro da alma.

Por isso mesmo não cabia reduzir a ordem da alma à perfeição da “conduta”. A conduta pode ser moldada desde fora, pela mera aquisição de hábitos, mas a questão decisiva é: esses hábitos estão integrados na alma e na consciência, como expressões da personalidade total, ou apenas as adornam como penduricalhos exteriores? Como é feia a bela conduta quando reveste uma alma tosca, fragmentária e superficial!

Sem a menor sombra de dúvida, o que me interessava era a perfeição puramente interior da consciência enquanto tal, mesmo que não se refletisse na conduta de maneira imediata e reconhecível.
É o absurdo dos absurdos que o exercício de algo chamado “filosofia” seja separado do desenvolvimento da consciência, da luta por uma personalidade completa e integrada. Se você fala disso numa faculdade de filosofia, responderão que isso é auto-ajuda ou assunto da faculdade de psicologia.

Mas como se pode buscar a verdade sem levar em consideração a qualidade da consciência que empreende a busca?

Recentemente, para compensar esse “handicap”, inventaram uma frescura chamada “filosofia clínica”, na qual o filósofo profissional se torna um doublé de psicoterapeuta. Como se a psicologia clínica não fosse ela mesma um campo profissional previamente delimitado e pudesse infundir no aluno as virtudes cardeais. Como se articulando duas profissões especializadas, com campos estritamente recortados, se pudesse atingir o âmago da consciência e desenvolvê-la desde dentro. Como se a perspectiva mesma do psicólogo clínico não implicasse a mais estrita neutralidade quanto aos valores morais, religiosos, políticos e existenciais do paciente – isto é, quanto a tudo o que é mais vital para o exercício da filosofia no seu sentido clássico.

Por outro lado, é claro que, se muitos livros de psicologia (ou, no contexto anglo-americano, de crítica literária) têm mais alcance filosófico do que boa parte daquilo que se publica sob o rótulo de filosofia, isso se deve precisamente ao fato de que a redução da filosofia a argumentos abstratos e análise de textos protege o estudante de qualquer contato intelectual com as questões da vida real, que em outras áreas de estudo não podem ser evitadas de todo.

Por exemplo, que raio de coisa pode ser uma “análise de textos” se não vem precedida de anos de formação literária? Pessoas sem capacidade de captar nuances de sentido só podem mesmo aspirar a uma linguagem unidimensional onde a cada “proposição atomística” corresponde um “fato científico”, porque se sentem desorientadas e atônitas diante de qualquer outra linguagem. A “escola analítica”, ao menos na geração dos seus fundadores, constitui-se eminentemente de indivíduos que só conseguem ler o que eles próprios escrevem, ou o que foi escrito especialmente para eles. Os erros monstruosos de interpretação que Bertrand Russell comete na sua “História da Filosofia Ocidental”, quando trata, por exemplo, de Platão ou de Hegel – para não falar da aberração psicótica das suas atitudes políticas --, refletem a mutilação auto-imposta de uma mentalidade que, em prol da perfeição lógica, abdicou da sanidade, mais ou menos como o dr. Simão Bacamarte.

Tirei mais proveito filosófico de Kenneth Burke, William Empson ou F. R. Leavis que de qualquer “filósofo analítico”. O motivo é simples: Burke, Empson e Leavis treinaram para compreender a linguagem humana em vez de reduzi-la a um programa de computador.

Pelo lado psicológico, a coisa é mais séria ainda. Meu amigo Juan Alfredo César Müller definia “neurose” como uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. Quantas mentiras esquecidas uma alma pode acumular dentro de si sem que isso deforme gravemente a sua visão dos “problemas filosóficos”, mesmo compreendidos no sentido mais reduzido e curricular da coisa? Que Russell e Wittgenstein fossem uma bela dupla de neuróticos é coisa que todo mundo sabe. Mas nada justifica proceder como se isso fosse um dado biográfico marginal, alheio ao “conteúdo” das suas filosofias. É quase impossível que a filosofia de um neurótico não seja, em boa parte, autodefesa psicológica contra algum fantasma, e que nisso não consista precisamente o seu sentido, por baixo da aparência teorética que a reveste. Separada dessa motivação profunda, uma proposição filosófica é apenas uma fórmula genérica e impessoal que pode ser posta em qualquer boca e que, por isso mesmo, não tem sentido nenhum. Só mesmo um nerd incapaz de dialogar com qualquer ente que não seja um computador pode imaginar que é possível compreender uma sentença isolando-a da motivação psicológica que a determina.

Mas isso não quer dizer que a condição psicológica favorável ao exercício da filosofia coincida com a “saúde mental” tal como a definem as várias escolas de psicologia clínica e psiquiatria. Esse é um conceito redutivo, que tem mais a ver com a adaptação a um determinado meio social – o qual pode ser ele próprio bem neurótico – do que com alguma noção filosófica do que seja uma consciência integrada. Não, malgrado a utilidade que alguns estudos de psicologia possam ter para o filósofo, nada o exime de saltar por cima das noções meramente clínicas (“científicas” o quanto se pretendam) e empreender por si mesmo a busca radical da ordem da alma, que transcende de muito qualquer conceito de “saúde mental”. Nenhuma noção pronta pode substituir esse esforço pessoal."

* Postagem do Professor Olavo de Carvalho em 10 de Dezembro de 2014 no facebook.
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

RONALD REAGAN

Predição de Ronald Reagan se cumprindo
por: Bill Federer

Ronald Reagan nasceu em 6 de fevereiro de 1911.

Formado na Faculdade Eureka, em Illinois, 1932, ele trabalhou como salva-vidas e então fez anúncios para estações de rádio em Iowa.

Ele se tornou locutor esportivo para os jogos de beisebol do time Chicago Cubs e viajou com esse time. Enquanto estava no Chicago Cubs na Califórnia, Ronald Reagan fez um teste na empresa cinematográfica Warner Brothers, pegando um contrato de filmes de segunda categoria.

Ele foi capitão da aeronáutica do Exército dos EUA durante da 2ª Guerra Mundial.

Durante sua carreira como ator, ele apareceu em mais de 50 filmes.

Ele casou com Jane Wyman e seus filhos foram Maureen, Christine (morreu com um dia) e Michael (adotado).

Ronald Reagan foi eleito presidente do Screen Actors Guild (Sindicato de Atores Cinematográficos), saiu do Partido Democrático e foi para o Partido Republicano e acabou se tornando governador da Califórnia.

Seu segundo casamento, com Nancy Davis, 1952, lhes deu Patti e Ron como filhos.

Aos 69 anos de idade, ele era a pessoa mais velha eleita presidente dos EUA, e 69 dias depois de sua posse, ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato.

Ronald Reagan declarou na Universidade St. John’s em Nova Iorque, 28 de março de 1985: “O governo que é grande o suficiente para dar para você tudo o que você quer provavelmente tirará tudo o que você conseguiu.”

Ronald Reagan comentou para o Conselho de Herança, em Warren, Michigan, 10 de outubro de 1984: “Henry David Thoreau estava certo: ‘Que o melhor governo é o governo mínimo.’”

Em seu discurso de 1964, “Um Tempo para Escolher,” Ronald Reagan declarou: “Proponho que não existe nenhuma esquerda ou direita, só subida ou descida. Subida para o máximo de liberdade individual em conformidade com a lei e a ordem, ou descida para o velho entulho do totalitarismo; e independente de seu propósito humanitário, os que querem sacrificar a liberdade pela segurança escolheram, quer saibam ou não, esse caminho de descida.”

Ronald Reagan declarou em Beijing, China, 27 de abril de 1984: “Vi a ascensão do fascismo e comunismo. Ambas filosofias glorificam o poder arbitrário do Estado… Mas ambas teorias fracassam. Ambas negam as liberdades que Deus deu, as quais são o direito inalienável de cada pessoa neste planeta. Aliás, elas negam a existência de Deus.”

Em 20 de março de 1981, no almoço da Conferência de Ação Política Conservadora, no Hotel Mayflower, em Washington, D.C., Ronald Reagan declarou: “O mal é impotente se os bons não têm medo. É por isso que a visão marxista acerca do homem sem Deus acaba inevitavelmente sendo vista como uma fé vazia e falsa — a segunda mais antiga do mundo — proclamada pela primeira vez no Jardim do Éden com as palavras sussurradas ‘Sereis como deuses.’ A crise do mundo ocidental… existe na medida em que o mundo ocidental é indiferente para Deus.”

Em 17 de maio de 1982, num projeto de lei de emenda constitucional sobre oração nas escolas, o presidente Ronald Reagan declarou: “A fonte e dependência de nossa liberdade está numa fé permanente em Deus.”

Ronald Reagan proclamou: “Agora, pois, eu, Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos da América, em reconhecimento das contribuições e influência da Bíblia em nossa República e nosso povo, proclamo 1983 o ‘Ano da Bíblia’ nos Estados Unidos. Encorajo todos os cidadãos, cada um de seu próprio jeito, a reexaminar e redescobrir sua mensagem inestimável e eterna.”

Ronald Reagan escreveu em seu artigo “Aborto e a Consciência da Nação,” The Human Life Review, 1983: “Lincoln reconheceu que não poderíamos sobreviver como uma terra livre quando alguns homens podiam decidir que outros não eram dignos de ser livres e deviam ser escravos… Da mesma forma, não podemos sobreviver como uma nação livre quando alguns homens decidem que outros não são dignos de viver e devem ser abandonados ao aborto.”

Na Série de Palestras Alfred M. Landon, 1982, Ronald Reagan declarou: “Não dá para termos duas coisas ao mesmo tempo. Não dá para esperarmos que Deus nos proteja numa crise e ao mesmo tempo deixá-Lo lá na prateleira de nossa vida do dia-a-dia. Fico pensando se Ele às vezes não está esperando que despertemos. Talvez Ele esteja com Sua paciência se esgotando.”

No Estádio Reunion em Dallas, 1984, Ronald Reagan declarou: “Sem Deus não existe virtude porque não há nenhum despertamento da consciência… Sem Deus as pessoas da sociedade ficam grosseiras; sem Deus a democracia não durará e não condições de durar… Os EUA precisam de Deus mais do que Deus precisa dos EUA. Se um dia nos esquecermos de que somos Uma Nação Sob Deus, então sucumbiremos como nação.”

Em 1961, Ronald Reagan declarou: “Um dos métodos tradicionais de impor o estatismo ou o socialismo num povo é por meio da medicina. É muito fácil disfarçar um sistema médico como projeto humanitário… James Madison em 1788… disse… ‘Há mais exemplos da redução da liberdade das pessoas por meio da intromissão gradual e silenciosa feita pelos que estão no poder do que por usurpações violentas e súbitas.’ … O que podemos fazer sobre isso? … Podemos escrever aos nossos deputados e nossos senadores… dizendo-lhes que não queremos mais nenhuma intromissão nessas liberdades individuais… Não queremos um sistema médico público… Se você não se opor, esse tipo de sistema médico vai ser aprovado… e por trás dele virão outros sistemas do governo que invadirão todas as áreas de liberdade conforme conhecemos… até que um dia… despertaremos para ver que estamos no socialismo. E… você e eu vamos passar nossos últimos anos na terra contando para nossos filhos e netos como era ter liberdade nos velhos tempos nos EUA.”

Traduzido por Julio Severo do artigo do WorldNetDaily:
  Ronald Reagan prediction coming true
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domingo, 24 de agosto de 2014

TARDE TE AMEI (SANTO AGOSTINHO)

1. Tarde Te amei, oh Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei… Trinta anos estive longe de Deus. Mas durante esse tempo algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob Tua Guia e o consegui porque Tu Te fizeste meu auxílio.
2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… «Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior». Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora. Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…
3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu minha surdez… «Me fizeste entrar dentro de mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu havia me escondido. Mas Tu me arrancaste de meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo estava». Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “TOMA E LÊ, TOMA E LÊ!”
4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste minha cegueira. Então corri à Bíblia, a abri ao acaso e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: «Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo» (Rm 13,13s). Aquelas Palavras RESSOARAM dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida…
5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti… Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Assim foi como descobri a Deus e me dei conta de que no fundo era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente meu coração.
6. Provei-Te, e agora tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. «Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo». Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!…
7. E agora, Senhor, só amo a Ti ! Só sigo a Ti ! Só busco a Ti ! Só ardo por Ti !…
8. Tarde te amei! Tarde Te amei, oh Beleza tão antiga e tão nova ! Tarde demais eu Te amei !… Eis que estavas dentro e eu, fora. E fora Te buscava e lançava-me, disforme e nada belo, ante a beleza de tudo e todos que criaste. Estavas comigo e não eu Contigo…Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste Teu Perfume e respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei,Te saboreei, e agora tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora estou ardendo em desejos por Tua Paz !
(Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29)
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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O QUE FORTALECE E ENFRAQUECE NOSSA INTEGRIDADE

Nota 1: o artigo é longo mas vale cada frase. Reserve um tempo para estudá-lo. Tradução livre e não profissional do artigo deste site:
http://www.artofmanliness.com/2013/08/05/what-strengthens-and-weakens-our-integrity-part-i-why-small-choices-count/

Nota 2: Até onde sabemos este artigo é parte ou baseado no livro "The Honest Truth About Dishonesty: How We Lie to Everyone - Especially Ourselves" de Dan Ariely - confira o original aqui:http://www.amazon.com/gp/product/0062183613/ref=as_li_ss_tl?ie=UTF8&camp=1789&creative=390957&creativeASIN=0062183613&linkCode=as2&tag=stucosuccess-20


Nota 3: Recomendamos também o livro completo do autor que já está publicado no Brasil com o nome "A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade" - confiram locais de venda e preços aqui:
http://www.buscape.com.br/a-mais-pura-verdade-sobre-a-desonestidade-dan-ariely-8535258086.html?pos=1#precos


Nota 4: Animação sobre o texto/livro de Dan Ariely: (em inglês)
https://www.youtube.com/watch?v=XBmJay_qdNc#t=20

Parte 1:
POR QUE PEQUENAS ESCOLHAS CONTAM

Integridade: é uma qualidade que vale a pena todo homem desejar. Ela engloba muitas das melhores e mais admiráveis características em um homem: Honestidade, retidão, fidelidade, justiça, lealdade e coragem para manter suas palavras e promessas independentes das consequências. A integridade é uma palavra que deriva do latim para "totalidade" e denota um homem que integra com sucesso todas as boas virtudes - que não fica só no diz que faz, mas faz o que diz.

De um modo geral, não é muito difícil falar sobre essa qualidade e aconselhar a simplesmente fazer isso, mas um rápido olhar para as manchetes intermináveis alardeando os mais recentes escândalos e casos de corrupção, mostra que nem sempre esta é a abordagem mais eficaz. Enquanto a base da integridade está em ter um código moral firme de certo e errado, ela também pode ser extremamente útil e ate mesmo fundamental para entender os fatores psicológicos e ambientais que podem nos tentar a desviar desse código. O que está na raiz de nossa decisão de comprometer, por vezes, nossos princípios? Que tipo de coisas nos levam a ser menos honestos e que tipos de coisas que nos ajudam a ser mais íntegros? Quais são algumas maneiras práticas que podemos verificar nossas tentações de ser imoral ou antiético? Como podemos fortalecer não só nossa própria integridade, mas a integridade da sociedade também?

Nesta série de quatro partes sobre integridade, vamos usar a pesquisa de Dan Ariely, professor de psicologia e economia comportamental e outros, a fim de responder a estas questões vitais.

Por que comprometemos nossa integridade?

Todos os dias somos confrontados com pequenas decisões que refletem na nossa integridade. O que é bom chamar de despesa de negócios para colocar no cartão coorporativo? Será que é mesmo tão ruim aumentar um pouco a verdade para melhorar meu currículo e conseguir aquele emprego dos sonhos? É errado fazer uma paquera ocasional quando sua namorada não esta por perto? Se você perdeu muitas aulas, você pode dizer ao professor que um familiar morreu? É ruim fingir-se de doente para não ir ao trabalho (ou algum compromisso familiar que você quer evitar) quando se esta de ressaca? É certo piratear filmes e utilizar Adblock quando navega na internet?

Durante muito tempo pensava-se que as pessoas tomavam tais decisões, empregando uma analise racional de custo/beneficio. Quando tentada a se envolver em um comportamento antiético, elas pesam as chances de serem pegas e a possível punição que isso possa gerar ou de uma possível recompensa, para em seguida agir conforme a escolha.

No entanto, experimentos de Dan Ariely entre outros estudiosos, demostraram que esta longe de ser uma escolha deliberadamente racional. Desonestidade muitas vezes é fruto de fatores psicológicos e ambientais que as pessoas normalmente não estão nem mesmo conscientes.

Ariely descobriu esta verdade através da construção de um experimento em que participantes (estudantes universitários) sentaram-se em uma sala de aula cenográfica e receberam 20 equações matemáticas para resolver. Eles foram desafiados a resolver o maior numero de equações que podiam dentro de 5 minutos e ofereceu 50 centavos para cada acerto. Quando os 5 minutos acabaram, os alunos entregavam seu teste para o experimentador, que contabilizava as respostas corretas e pagava a quantidade de dinheiro pelas questões acertadas. Nesta condição de controle, os participantes resolveram corretamente uma media de quarto equações matemáticas.

Ariely então introduzia uma condição que permitia uma fraude. Quando os participantes terminavam, eles conferiam as suas próprias respostas e rasgavam os testes no fundo da sala e eles mesmos relatavam a quantidade de equações que acertaram para o experimentador localizado na parte da frente da sala, que em seguida os pagava corretamente. Quando a possibilidade de trapaça foi introduzida, os participantes afirmaram resolver seis equações, duas a mais que o grupo em condição de controle. Ariely descobriu que dada a oportunidade, muitas pessoas trapaceiam, mas apenas um pouco.

Para testar a ideia de que as pessoas estavam fazendo uma analise de custo/beneficio no momento de decidir se deve ou não trapacear, Ariely introduziu uma nova condição que deixaria claro que não haveria nenhuma chance de ser pego: depois de verificar seus acertos e rasgar seus testes, os participantes recebiam seu pagamento não das mãos do experimentador, mas retirando de dentro de um recipiente de dinheiro que ficava ao lado de fora da sala sem que alguém estivesse olhando. No entanto, ao contrario das expectativas, a impossibilidade de ser pego não aumentou a taxa de trapaças. Então Ariely propôs aumentar o valor oferecido pelos acertos, pois se trapacear era de fato uma escolha racional com base em incentivo financeiro, então a taxa de trapaças deveria ter aumentado com o aumento de recompensa. Mas aumentar o valor a ser pago não causou este efeito, na verdade quando a recompensa estava no valor mais alto de 10 dólares para cada resposta correta, o participante reivindicava apenas o que realmente acertou. A trapaça foi por agua a baixo. Por quê? "Era mais fácil para eles enganar e ainda se sentir bem com seu próprio senso de dignidade" Ariely explica: “Por 10 dólares por equação, nós não estamos mais falando do tipo de trapaça que seria, por exemplo, roubar um lápis do escritório”. É mais parecido com pegar varias caixas de canetas, um grampeador e um pacote de folhas sulfites, que é muito mais difícil de ignorar ou racionalizar.

Isso que Ariely descobriu, foi a raiz das verdadeiras motivações das pessoas para trapacear. Ao invés de decidir-se em serem apenas desonestas pesando o risco versus recompensa, elas também são muito influenciadas pelo grau em que a atitude afetará sua própria capacidade de ver a si mesma de forma positiva. Ariely explica estas duas direções opostas:
"Por um lado, queremos nos ver como pessoas honestas e honradas. Queremos ser capazes de olhar para nós mesmos no espelho e se sentir bem sobre nós mesmos (os psicólogos chamam essa motivação de ego). Por outro lado, queremos o beneficio da trapaça e obter o máximo de dinheiro possível (a motivação financeira é a motivação padrão). É evidente que estas duas motivações estão em conflito. Como podemos garantir os benefícios de trapacear e ao mesmo tempo vermos a nos mesmos como pessoas honestas e maravilhosas?

Aqui é onde nossa incrível flexibilidade cognitiva entra em jogo. Graças a essa habilidade humana: enquanto nos enganamos por apenas um pouco, podemos nos beneficiar de enganar e ainda nos vermos como seres humanos maravilhosos. Este equilíbrio é o processo de racionalização e é a base do que chamaremos de ‘teoria do fator de correção’.”
A "teoria do fator de correção", explica como podemos traçar o limite entre o "isto é bom" e "isso não é bom" entre as decisões que nos fazem sentir culpados e aquelas que encontramos uma forma de confiantemente justificar. Quanto mais somos capazes de racionalizar nossas decisões como moralmente aceitáveis, maior é o limite de fator de correção. E a maioria de nós é boa em justificar dizendo: “Todo mundo está fazendo isso, isso só nivela as coisas... Eles são uma grande empresa, isso não vai afeta-los... Eles não pagam o suficiente mesmo... Ele me deve isso... Ela me traiu uma vez também... Se eu não fizer isso meu futuro estará arruinado...”.

Onde você traça o limite e como você permite que uma mentira altere seu fator de correção é influenciada por uma variedade de condições externas e internas, mas o mais importante é isso: dar um primeiro, ainda que pequeno passo desonesto. Outras condições podem aumentar ou diminuir a probabilidade de dar esse passo inicial, e vamos discuti-las em seguida, após essa serie. Frequentemente o cerne da questão é essa escolha pela primeira decisão desonesta. Vamos começar por aí.

O primeiro corte é o mais profundo: escorregar na pirâmide da escolha

Alguma vez você já observou como uma figura publica que já foi admirada se revelou um corrupto e já se perguntou como foi que ele chegou tão longe?

Oras bolas, ele não acorda um dia e decide embolsar um milhão de dólares que não era dele. Ao invés disso, sua jornada para o "lado negro" quase que certamente começou com uma aparentemente pequena decisão, algo que a ele parecia ser bastante inconsequente na época como falsificar apenas um número ou dois em uma de suas contas. Mas uma vez que ele pôs um pé na porta da desonestidade, seus crimes foram muito lentamente crescendo e crescendo.

No livro Mistakes Were Made (but note for me) (Erros foram cometidos, mas não por mim – livre tradução) , os psicólogos sociais Carol Travis e Elliot Aronson ilustram a maneira pela qual uma única decisão pode alterar muito o caminho que nos tomamos e a força de nossa integridade. Eles usam o exemplo de dois estudantes universitários que se encontram lutando em uma prova que vai determinar se vão conseguir ingressar numa pós-graduação. Eles são "idênticos em termos de atitudes, habilidades e saúde psicológica", e são "razoavelmente honestos e tem na media a mesma atitude para trapaças".

É dada aos dois alunos a chance de ver a resposta de outro estudante e os dois lutam com a tentação. Mas um decide ceder à trapaça e o outro não. "Cada um ganhou algo importante, mas com um preço; um escolheu a integridade de uma boa nota, o outro escolheu uma boa nota para preservar sua integridade."

O que cada aluno pensa e diz sobre si mesmo reflete sobre essa decisão? Como foi explicado na nossa serie anterior sobre responsabilidade social, quando você comete um erro ou alguma decisão sua está em desarmonia com seus valores, uma lacuna se abre entre seu comportamento real e sua autoimagem como uma pessoa honesta, boa e competente. Devido a essa diferença você experimenta uma dissonância cognitiva - uma espécie de ansiedade mental ou desconforto. Como o ser humano não gosta desta sensação de desconforto, o nosso cérebro trabalha rapidamente para cobrir a lacuna entre a forma como agimos e a nossa autoimagem positiva, justificando que o comportamento não é realmente tão ruim assim.

Desta forma, o estudante que decidiu trapacear vai tranquilizar sua consciência, dizendo coisas do tipo: "Eu sabia a resposta, eu simplesmente não conseguia me lembrar disso no momento", ou "Todos os estudantes também trapaceiam", ou "Antes de qualquer coisa a prova não era justa mesmo, o professor se quer disse que cairia este assunto". Este estudante vai encontrar formas de justificar sua escolha pela trapaça, como não sendo uma grande coisa.

O aluno que não trapaceou embora não sentirá a mesma dissonância cognitiva que o outro, ainda se perguntará se fez a escolha certa, especialmente se ele não obtiver uma boa nota na prova. Sentindo-se em dúvida sobre sua escolha, ele poderá igualmente sentir alguma dissonância e então este aluno também buscará reforçar a confiança que sente em sua escolha refletindo sobre o erro que é trapacear e como é bom ter uma consciência limpa.

A medida que o aluno reflete sobre a justificativa de sua escolha, a sua atitude sobre trapaça e sua auto percepção vão mudar sutilmente. O aluno que trapaceou vai afrouxar sua percepção de quando trapacear é conveniente, sentindo que não há nada de errado em ser o tipo de pessoa que trapaceia por uma boa razão. Sua capacidade de justificar escolhas desonestas vai aumentar e expandir sua margem de fator de correção. Já o aluno que manteve sua integridade vai sentir ainda mais forte que trapaças nunca são aceitáveis e sua capacidade de justificar a desonestidade vai diminuir também, assim como sua margem de fator de correção moral. Para diminuir ainda mais a ambiguidade e reforçar as certezas que estes alunos têm de suas escolhas divergentes, eles farão cada vez mais escolhas de acordo com essas novas posturas.

Enquanto que os dois estudantes partiram do mesmo lugar moralmente ambíguo e muito semelhante, eles viajaram para a base do que Tavris e Aronson chamam de "A Pirâmide da escolha", porem chegaram a cantos opostos desta base. A decisão é a única coisa que os levou para cantos opostos. Como podemos ver, com apenas um passo de desonestidade iniciou-se um "processo de aprisionamento: ação-justificação-outra ação, que aumentam a intensidade e comprometimento e pode acabar nos levando para longe de nossas intenções e princípios originais”.

Ah! Que se dane!

Ao invés de serem duas linhas em constante crescimento, os caminhos que divergem a partir de uma única escolha muitas vezes tomam um rumo que mais se parece com isso:

O que está acontecendo com essa linha divergindo acentuadamente a esquerda? Ela representa o momento em que uma pessoa que faz uma serie de decisões desonestas atinge o ponto "que se dane".

É mais fácil de entender o chamado efeito "que se dane" se você já esteve em uma dieta alimentar rigorosa. Vamos supor que você está em dieta de baixo carboidrato e você tem ido muito bem por algumas semanas. Você sai com amigos para jantar e a garçonete coloca bem a sua frente um cesto de pão quentinho e perfumado. Então você continua resistindo a tentação e prefere ficar com seu bife e brócolis... Mas poxa vida, aqueles pãezinhos parecem ótimos e você decide finalmente provar apenas um, o que o leva a outro e depois mais um. Quando seu amigo decide pedir uma sobremesa e pergunta se você também quer, ao invés de ficar com seu ligeiro lapso e recuperar sua força você pensa: "Ah! que se dane, eu já arruinei a minha dieta de qualquer jeito, amanha reinicio com novo animo." Você desfruta sua torta de sobremesa e quando chega em casa ainda toma uma taça de sorvete, afinal tem de aproveitar ao máximo seu dia "arruinado" antes de começar tudo de novo na manhã seguinte.

Em seus estudos, Ariely descobriu que o efeito "que se dane" te envolve não somente em questões de dieta, mas também nas questões dobre integridade.

Em outro experimento que ele conduziu, foi mostrado aos participantes 200 quadrados um atrás do outro em uma tela de computador. O objetivo era escolher qual lado do quadrado tinha mais pontos. Se eles escolhessem o lado esquerdo ganhariam cinco centavos e se escolhessem o lado direito ganhariam dez centavos. O pagamento não estava condicionado a resposta estar certa ou não, de forma que o participante foi confrontado entre escolher a resposta que eles sabiam ser a certa, porem receber um valor menor por isso ou escolher a receber um valor maior em dinheiro mesmo sabendo que a resposta estava errada.

O que Ariely descobriu é que os participantes que eventualmente trapaceavam aqui e ali no iniciam do experimento, acabavam chegando a um "limite de honestidade", um ponto em que eles iriam pensar: "Que se dane, eu sou um trapaceiro, mas pelo menos posso ganhar mais dinheiro" e então eles passam a trapacear em praticamente todas as oportunidades. A primeira decisão de enganar levou a outra, até que a sua margem de fator de correção se estendeu de uma brechinha para um abismo e as preocupações com integridade caíram dentro do penhasco.

Conclusão

Uma vez que você cometer um ato desonesto, enfraquecerá seus padrões morais e sua própria percepção como uma pessoa honesta ficará confusa. Sua capacidade de racionalizar cresce e sua margem de fator de correção aumenta. Fica difícil traçar a linha entre o ético e o antiético, honesto e desonesto. Ariely descobriu em sua pesquisa que cometer um ato desonesto em uma área da sua vida, não só leva a mais desonestidade somente nesta área, mas acaba corrompendo todas as demais áreas de sua vida também. "Um único ato de desonestidade", argumenta ele, "pode mudar o comportamento de uma pessoa dali pra frente”.

Isso significa que se você quer manter sua integridade, a melhor coisa a fazer é nunca dar o primeiro passo desonesto. Não importa o quão pequena e inconsequente uma escolha possa parecer naquele momento, você ingressará por um caminho que mancha seu termômetro moral e o levará a cometer delitos ainda mais graves e fará você comprometer seus princípios mais fundamentais.

Ariely argumenta que não está somente nos impedindo de dar um fatídico primeiro passo de desonestidade, mas coibindo pequenas infrações na sociedade também. “Enquanto ele admite que seja tentador ignorar erros primários como não sendo grande coisa, sua pesquisa demonstrou que “não deveria desculpar, esquecer ou perdoar pequenos crimes, pois isso pode piorar a situação” Ao invés disso, ao reduzir “o numero aparentemente inofensivo de desonestidade, a sociedade pode se tornar mais honesta e menos corrupta a longo prazo". Para isso não seria necessário envolver mais regulamentação ou politicas de tolerância zero que Ariely acredita não ser efetivo, mas sim instituir um controle mais sutil a integridade pessoal e pública, alguns dos quais discutiremos nas próximas partes desta serie.

Obviamente, nem todos que fazem uma má escolha acabam moralmente depravados e totalmente corruptos. Muitos de nós somos capazes de fazer um erro, ou mesmo vários, mas em seguida voltar pra linha novamente. Isto ocorre porque há varias condições que não se limitam em apenas nos tornar mais ou menos suscetíveis a essa primeira decisão desonesta, mas também aumentam ou diminuem as chances de cair morro abaixo nas questões antiéticas.

Uma dessas condições que é a distancia que sentimos entre nossas ações e suas consequências e é o assunto que abordaremos no próximo estudo da serie.



Parte 2:COBRIR A BRECHA ENTRE NOSSAS AÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Na primeira parte desta serie de estudos sobre o que enfraquece a nossa integridade e como podemos fortalecê-la, discutimos como as nossas decisões por atos de desonestidade são influenciadas por dois fatores: 1) desejar receber uma recompensa que pode ser financeira / material ou prazer e fama; 2) O desejo de continuar vendo a si mesmo como uma pessoa boa.

Como o professor de psicologia Dan Ariely diz: "Essencialmente nós enganamos até o ponto em que conseguimos manter nossa autoimagem como indivíduos razoavelmente honestos”.

A forma que encontramos de equilibrar essas emoções conflitantes se resume em racionalizar nossos comportamentos antiéticos e egoístas acreditando que não são tão ruins. Quanto mais você é capaz de justificar suas ações morais, mais tênue fica a linha entre o que você considera certo e errado e torna mais amplo o limite do "fator de correção".

Já falamos anteriormente como dar um pequeno passo em direção a desonestidade pode desencadear um ciclo de racionalização e reforçar ainda mais o comportamento desonesto, que poderá leva-lo para longe de seus princípios e a cometer crimes ainda mais graves. Mas quais são os fatores que estão em jogo quando você dá o primeiro passo? E o que mantem você persistindo nesse caminho sombrio uma vez que se inicia nele?

Vamos explorar agora um dos fatores mais importantes que aumentam nossa capacidade de racionalizar um ato desonesto e como podemos combater essa foça a fim de manter nossa integridade

A distância entre a ação e a consequência

Umas dessas influências significativas é a distância psicológica entre o ato e as suas consequências. Quanto menos pensarmos em como uma decisão imoral afeta outra pessoa e evitamos ter de encarar a realidade do que estamos fazendo, mais fácil se torna a escolha sem sentir-se mal com isso.

Ariely realizou diversos experimentos que evidenciaram este principio de comportamento

Primeiro ele conduziu um experimento não cientifico em vários dormitórios de um campus universitário. Em alguns refrigeradores de uso comum de alguns dormitórios ele colocou um engradado de Coca-Cola e em outros deixou um recipiente com notas de dinheiro equivalente ao valor dos refrigerantes. Embora a Coca e as notas tivessem o mesmo valor, apos 72 horas todos os refrigerantes haviam sumido, mas as notas estavam intactas. Os alunos poderiam facilmente ter passado a mão na grana e usado para comprar uma Coca nas máquinas de vendas que tinham por perto. Mas eles não fizeram isso. Por quê? Porque apropriar-se de dinheiro em sua forma bruta faz sentir que é um roubo, enquanto que pegar uma Coca (um item que está além do dinheiro) faz se sentir bem melhor. Ariely compara isso ao mesmo mecanismo que levaria um funcionário a pegar para si um pacote de folha sulfite do escritório, mas jamais ousaria se apropriar de quatro reais em dinheiro de dentro do caixa.

Apos este experimento inicial, Ariely queria comprovar se a mesma coisa aconteceria em um ambiente mais controlado. Então ele voltou para o teste original que falamos na primeira parte da serie. Se você se lembra, foi pedido aos participantes para resolver o maior numero possível de equações matemáticas em 5 minutos que receberiam pelos acertos. Na condição que permitia uma fraude, os participantes verificavam suas próprias respostas, rasgavam suas provas na parte de trás da sala e informavam ao experimentador quantos acertos tinham conseguido a fim de ganhar o dinheiro prometido (uma vez que o experimentador não iria verificar a folha de teste deles, poderiam afirmar que acertaram quantas equações quisessem). Desta vez, Ariely confundiu um pouco as coisas dando primeiro aos participantes fichas de plástico ao invés de dinheiro que deveriam ser trocadas posteriormente na sala ao lado. O que aconteceu quando este pequeno elemento foi adicionado entre a oportunidade de mentir e receber o dinheiro diretamente? Participantes enganando o dobro.

Em outro estudo, Ariely entrevistou centenas de jogadores de Golfe e eles deveriam imaginar uma situação em que eles moveriam a bola (o que é contra as regras do jogo) e receberiam uma vantagem por isso. Ele lhes pediu para imaginar quantas vezes na media o jogador iria mover a bola: 1- Tocando a bola com um taco de golfe; 2- Chutando com o pé ou 3- pegando com a mão. Os entrevistados imaginaram que um jogador comum (de golfe) usaria o taco duas vezes mais do que usaria a mão (e os pés seriam usados mais do que o taco e menos do que as mãos sendo, portanto uma opção intermediária). Ainda que a maneira como a bola era movida não muda em nada o fato de que se tratava de uma trapaça, movê-la com o uso do taco faz com que pareça menos desonesto, porque você não está em contato direto com a bola, você está separado do que está realmente fazendo. É mas fácil para o jogador dizer a si mesmo que é apenas um deslize que aconteceu sem querer, que não é um ato tão horrível e continuar a se senti como um cara honesto. Em contraste, Ariely escreve que se o jogador trapaceasse utilizando diretamente a mão, não haveria "nenhuma maneira de ignorar o proposito e a intencionalidade do ato".

Como neutralizar a Distância e fortalecer a sua integridade

Quanto maior a distância psicológica entre as nossas ações desonestas e suas consequências, mais fácil racionalizar essas ações como morais e eticamente aceitáveis. E quanto mais nossa capacidade de racionalizar aumenta, amplia-se a margem do fator de correção. Assim, a fim de fortalecer e preservar nossa integridade, é importante remover a lacuna, ainda que em nossas mentes, entre nossas ações e a realidade do que estamos fazendo e como isso afeta os outros.

Este pode ser um problema complicado, porque estamos contrariando uma questão psicológica. Primeiro temos que influenciar nossa mente para ver a importância do que esta acontecendo. Se antes de tudo não enquadrarmos nosso atos de hipocrisia como algo errado, não poderemos trabalhar para removê-los de nossas vidas. Ao invés de permitirmo-nos ignorar o problema, (não deixe que a mão esquerda saiba o que a direita esta fazendo!) Temos que trabalhar para criar conscientemente mais consciência das consequências de nosso comportamento.

Cultivar essa consciência literalmente se resume em racionalmente fazer a separação entre alguma coisa e seu valor ou o efeito sobre outra pessoa. Assim, por exemplo, se você esta prestes a pegar um pouco de tinta da impressora do trabalho, imagine-se que ao invés disso esta pegando 30 reais da gaveta do seu chefe. Se você não consegue se imaginar furtando o caixa, perceberá que com a tinta não é diferente.

Vejamos outro exemplo. Digamos que você recebe 15 reais por hora para fazer seu trabalho, mas você passa uma hora do seu trabalho jogando conversa fora. Você esta praticamente roubando 15 reais do seu empregador. Claro que navegar na web não faz ninguém sentir que esta roubando. Mas isso não é de fato nada diferente do que embolsar um item de 15 reais enquanto faz suas comprar e não pagar por isso.

Outro elemento eficaz para adicionar a esse tipo de exercício mental é imaginar a pessoa que mais será afetada pela sua ação (ou talvez um ente querido ou alguém que gosta de você) a sua frente enquanto você faz isso. Será que você ainda pegaria a tinta da impressora ou tiraria um cochilo em horário de trabalho se seu chefe estivesse bem ali do seu lado? A necessidade de esconder algo é um sinal evidente que sua moralidade é questionável. Como se costuma dizer: integridade é o que você faz quando ninguém esta te olhando.

Claro que visualizar suas ações afetando alguém pode ser difícil se você trabalha para uma grande corporação. Em tais casos, a desonestidade e a racionalização se tornam infinitamente mais fácil, porque suas ações podem parecer distantes de quaisquer consequências e o prejuízo delas pequeno. No entanto, a essência da integridade é que uma ação errada é errada independente de sua magnitude... Roubar 10 reais de um homem rico não é mais certo que roubar 10 reais de um homem pobre. Não importa que a sensação de um ato seja diferente do outro. Roubar é roubar.

Também pode ser muito mais fácil de arranjar desculpas para seu comportamento desonesto se você não gosta do seu trabalho ou da pessoa com quem tem de lidar. Em outro experimento conduzido por Ariely, as pessoas recebiam a mais quarto dólares das mãos de qualquer experimentador neutro (condição de controle) ou de um experimentador que foi rude com eles. Na condição de controle 45% das pessoas devolveram o troco excedente (bastante preocupante que mais da metade das pessoas tenham ficado com o dinheiro). Mas apenas 14% das pessoas que lidaram com o experimentador rude devolveram o troco... Para eles, ficar com o troco indevido poderia ser justificado como uma punição para o comportamento do experimentador. Racionalizaram que ele não merecia o dinheiro de volta ou que seria para compensar o fato de terem sido tratados mal. Você pode ver este tipo de comportamento em ação em uma pessoa que rouba no trabalho porque não se sente bem paga. Ou talvez sua ex-namorada fosse uma completa babaca quando terminaram e ao te perguntar se o colar dela esta na sua casa você mente dizendo que não o viu. Ou talvez você traia sua esposa porque sente que ela é frígida sexualmente e deixa a desejar. É fácil justificar um ato desonesto quando você sente que alguém te deve alguma coisa ou foi injustiçado. Você poder ser levado a racionalizar que está apenas equilibrando a balança, mas por acaso dois erros fazem um acerto?

O reino onde devemos estar especialmente vigilantes sobre como aumentar nossa consciência de nossas ações é o virtual. O mundo virtual pode fazer tudo o que fazemos parecer nebuloso e abstrato. Na comunicação com amigos e ainda mais com estranhos aparecem enormes distancias entre nosso comportamento e seus efeitos reais. Muitas vezes esquecemos que tem um ser humano real sentado atrás da tela que você esta digitando. Aqui novamente ajuda imaginar-se fazendo na vida real o que esta fazendo online. Poderia sua habilidade de justificar seu comportamento virtual evaporar se você estivesse fazendo a mesma coisa no mundo real? Você até poderia se sentir bem flertando uma mulher que não seja sua esposa por mensagem instantânea, mas como seria dizer as mesmas coisas para uma desconhecida em um bar? E se sua esposa estivesse bem ali? Ofender e atacar uma pessoa em um fórum na internet pode fazer sentir-se inofensivo, mas você consegue se imaginar dizendo as mesmas coisas olhando nos olhos da pessoa? Dizer coisas online que você jamais diria a uma pessoa, constitui uma falha na retidão e na consciência necessária de um homem de integridade.

Conclusão

Devemos sempre lembrar que somos todos especialistas em criar justificativas para um comportamento desonesto quando esse comportamento serve aos nossos interesses. E quanto maior a distância que existe entre um ato imoral e suas consequências, mais fácil é gerar essas racionalizações. Somos tão hábeis em camuflar nossos atos desonestos sobre o disfarce de aceitabilidade que poderemos nunca os reconhecer pelo que de fato são, e muitas vezes iremos lutar com unhas e dentes para defender nossas justificativas.

Assim, viver com integridade exige autoexame franco e sincero e autoconhecimento. Quais são as suas verdadeiras motivações e intenções? Quais são as consequências de suas ações e a quem irão afetar? Reforçar o seu jogo mental e construir este tipo de consciência não é fácil. Trata-se de sintonizar-se com aquela vozinha irritante em sua mente que diz: "Espere um minuto, isso não está certo." Em vez de ignorá-la, anote o que essa voz diz em um caderno de bolso. Talvez vê-la em palavras a torne mais real e encurte essa distância entre ação e consequência. Ou considere a ajuda de um amigo ou outra pessoa que se importe e a quem você possa enviar um texto no momento em que sentir uma pontada de culpa chegando. Expressar para outras pessoas certamente tornará isso mais real.



Parte 3:
COMO PARAR A PROPAGAÇÃO DO VÍRUS DA IMORALIDADE

Bem-vindo a nossa terceira parte da serie sobre o que enfraquece a nossa integridade e como fortalecê-la. Até agora vimos como nós decidimos cometer um ato desonesto e como a distância entre o ato e suas consequências podem aumentar a nossa capacidade de racionalizar a imoralidade como comportamento aceitável.

Agora vamos discutir outro fator importante que influencia o nosso nível de conforto com as decisões desonestas: ver outras pessoas fazê-las.

Desonestidade como um contágio social

Como o professor de psicologia Dan Ariely explorou a natureza e motivações para cometer atos de desonestidade, ele viu-se perguntando se poderia ser propagado de pessoa para pessoa, como um contágio social, um "vírus da imoralidade". Se as pessoas vissem alguém do seu mesmo grupo trapaceando, os tornariam mais propensos a trapacear também?

Para responder a essa pergunta, Ariely mais uma vez voltou para o teste inicial que comentamos nos estudos anteriores: Em uma sala de aula, estudantes universitários recebem 20 equações matemáticas para resolver em 5 minutos e são pagos por cada acerto. Particularmente para esse experimento, cada membro do grupo de controle recebeu um envelope com dinheiro juntamente com uma folha de cálculo. Quando um participante terminava, ele verificava quantos acertos conseguiu e retirava de dentro do envelope a quantia adequada. Em seguida, ele levava sua prova até o experimentador que analisava as respostas e conferia quanto sobrava de dinheiro dentro do envelope antes de mandar o participante embora.

No experimento que eles rasgavam as provas e permitia a condição ideal para fazer trapaças, um participante verificou suas respostas, rasgou sua prova, retirou todo dinheiro no envelope, colocou o envelope no lugar sem deixar qualquer quantia e sem interagir uma vez se quer com o experimentador que estava com a cara enterrada em um livro grosso e saiu da sala.

Por fim, alguns participantes foram colocados no que foi chamado de "Condição de Madoff" (N. do T.) Tudo foi feito da mesma forma que na versão do teste em que podiam picar os papeis, porém apos um minuto em que iniciaram a prova, um ator e cumplice do experimentador que estava fingindo ser apenas mais um participante, se levantou e disse: "Eu terminei, o que devo fazer agora?" Ficaria claro para os outros estudantes que ele era um trapaceiro, pois não havia forma alguma de alguém resolver 20 equações em apenas 60 segundos. O experimentador respondia que ele poderia então rasgar sua prova e então o aprendiz de Madoff poderia pegar seu dinheiro no envelope. Em seguida, novamente ele falava em auto e bom som para que todos escutassem: Eu acertei tudo e o envelope ficou vazio, o que faço com ele? Ao que o experimentador respondia: Coloque o envelope vazio dentro da caixa e você está liberado pra ir embora. Feito isso, o ator deixaria a sala acenando com um sorriso de satisfação.

Então, teriam os participantes do experimento em Condição de Madoff, vendo que era possível levar todo o dinheiro para casa sem esforço ou consequências, sentirem-se motivados a enganar mais? Ou eles ficam chateados ao ver alguém sendo tão desonesto e dessa forma enganam menos?

Eles trapaceiam mais. Muito mais, como se pode ver. Participantes do experimento em Condição de Madoff, em media, alegaram terem resolvido três vezes mais equações do que na condição de rasgar a prova e receber pelos acertos e oito vezes mais do que no grupo de controle. "Em suma", escreve Ariely, "Os que estavam na Condição de Madoff pagaram a si mesmos o equivalente a quase o dobro de acertos que eles de fato deveriam receber".

O que esta na raiz de um pequeno aumento tão substancial na trapaça? Seria porque agora os outros participantes foram simplesmente induzidos pelo fato de que eles poderiam trapacear e sair ilesos? Ariely em seguida fez um novo experimento para testar essa teoria. Agora teria uma "Condição de pergunta". Ao receberem as instruções, o ator perguntaria ao experimentador em voz alta: “Já que é assim, não poderia simplesmente dizer que resolvi tudo e ir embora com todo o dinheiro? Posso fazer isso?” E o experimentador responderia: "Você pode fazer o que quiser". Nessa situação o ator não sairia mais cedo como na condição anterior. Resumidamente, os participantes receberam a confirmação de que eles poderiam trapacear sem consequências, mas não viram o exemplo de alguém fazendo isso. O resultado? Os participantes nessa "Condição de pergunta" alegaram que acertaram 5 equações a menos do que no grupo "Condição de Madoff".

Assim, o aumento da trapaça não era devido ao fato dos participantes simplesmente fazerem uma analise racional de custo-benefício de riscos versus recompensa. Em vez disso, o que Ariely tinha descoberto foi o componente social insidioso da desonestidade e a forma que ela de fato se espalha como uma infecção. "Em muitas áreas da vida, temos que olhar para os outros e aprender o que são comportamentos adequados e inadequados", Ariely teoriza. "Desonestidade pode muito bem ser um dos casos em que as normas sociais que definem o comportamento aceitável não estão muito claras e o comportamento dos outros pode vir a moldar nossas ideias sobre o que é certo e errado." Em outras palavras, testemunhar alguém do nosso grupo social ser desonesto pode potencialmente "calibrar nossa bussola moral interna.”.

N. do T. Bernard Lawrence "Bernie" Madoff foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Esta sociedade foi uma das mais importantes de Wall Street. Madoff, também foi uma das principais figuras da filantropia. Em Dezembro de 2008 Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. Suspeita-se que a fraude tenha alcançado mais de 65 bilhões de dólares, o que a torna numa das maiores fraudes financeiras levadas a cabo por uma só pessoa. Fonte: wikipedia.org

Como se vacinar contra o vírus da imoralidade

Escolha com sabedoria seus amigos e companheiros. Todo homem gosta de olhar a si mesmo como um lobo completamente independente e solitário que é imune a pressão dos demais. Essa autonomia pode ser um ideal digno, mas a pesquisa sobre o assunto mostrou que, de um jeito ou outro, somos todos influenciados por aqueles com quem estamos cercados. Estudos já demonstraram que os nossos companheiros e parentes queridos afetam nosso humor e estado de espirito. E agora sabemos que eles podem desempenhar um papel na mudança da agulha de nossa bússola moral também.

É perfeitamente possível conviver com pessoas que tem padrões morais muito mais baixos que os seus e ainda assim manter o seu. É apenas mais difícil. Nadar contra a corrente se torna cansativo e você corre o risco de, eventualmente, decair e começar a aceitar os padrões mais baixos como seu novo normal. Enquanto que se você se cercar de amigos que compartilham de seus elevados padrões morais, permanecer íntegro e reto torna-se muito mais fácil.

Tornar-se membro de um grupo honrado. Ariely argumenta que quanto mais você tem consideração pela pessoa que você vê sendo desonesta dentro do mesmo grupo social, mais elas podem influenciar suas ideias de certo e errado. Em algum lugar no subconsciente você pensa: "Eles são como eu e eles acham que fazer isso está certo, então talvez seja bom eu fazer isso também". Ficamos ainda mais vulneráveis quando o exemplo de mau comportamento vem de uma figura de autoridade a quem respeitamos como um pai, treinador ou pastor que deveriam ser mentores, não são como nós. Eles são as pessoas que queremos nos tornar e olhar para seus exemplos.

Porém, a coisa realmente interessante é que isso também se aplica no sentido oposto, vendo alguém que consideramos fora do nosso grupo social agir de forma imoral pode servir de inspiração para sermos melhor.

Em uma das versões mais interessantes do estudo descrito acima, ao invés do ator/cumplice ser alguém que se vestia como os outros estudantes, ele usava um uniforme de uma escola rival. Nessa que foi chamada de "Condição Rival-Madoff", os participantes afirmaram acertar seis equações a menos que no grupo Madoff original. Quando vemos alguém cometendo más ações a quem consideramos pertencer a um grupo social diferente e moralmente inferior ao nosso, somos lembrados de que nós não queremos ser como eles e aumentamos nosso bom comportamento a fim de distanciarmos nossa identificação com eles.

Grupos honrados são essencialmente a premissa deste principio: o grupo compara-se a outros grupos e se considera melhor / mais forte / mais moral do que qualquer outro. O grupo disputa para manter essa reputação e os membros se policiam uns aos outros para manter o padrão que irão reforçar sua pretensão de orgulho. Esse tipo de mentalidade de "nós contra eles" não é muito popular nos dias de hoje, mas acredito que possa ser instintivamente bastante saudável para trazer para fora o melhor que há em nós.

Conhecer e ser firme em seu código de honra. Enquanto todos nós podemos ser influenciados por nossos amigos em diferentes graus, quanto mais claros e firmes somos com nossos princípios e normas, menos influenciados seremos pelas ações e exemplos dos outros. O seu código de honra pessoal é vago e frouxo ou é definido em uma base solida e tão claro como o sol do meio-dia? Você já parou para refletir sobre os seus princípios? Você sabe como e por que você chegou a abraça-los ou são crenças que não foram examinadas que você tem absorvido a partir de sua educação e cultura?

Se você esta entre os membros do seu grupo honrado ou distantes daqueles que não compartilham seus valores, seu código de honra pessoal irá atuar como uma fonte constante de direcionamento para que você haja como o mesmo homem onde quer que vá e com quem quer que se encontre.

Será inútil ter um código de honra pessoal claro a menos que propositalmente e regularmente você se lembre dele. Falaremos muito mais sobre isso na ultima parte da série.

Impedindo a propagação do contágio na sociedade

Integridade não é simplesmente uma virtude pessoal, mas social também. Na verdade, não há nenhuma outra virtude em que o cultivo pessoal de um indivíduo tenha maior efeito sobre a sociedade como um todo. A teoria do contagio social explica o por quê. Quando uma pessoa decide agir de forma antiética, seu exemplo pode influenciar alguém a fazer o mesmo resultando em um efeito dominó que reduz os padrões de um grupo cada vez maior de pessoas. Ou como Ariely coloca:

"Transmitido de pessoa para pessoa, a desonestidade tem um efeito lento, daninho e corrosivo. Como o "vírus" que sofre mutação e se espalha de um para o outro, um novo código, menos ético de conduta se desenvolve. E embora seja sutil e gradual, o resultado final pode ser desastroso. Este é o custo real de trapacearmos até nas menores coisas e a razão pela qual nos devemos estar mais vigilantes em nossos esforços para reduzir nem que sejam as pequenas infrações.”.
O vírus da desonestidade não é uma ideia abstrata. Pense na corrupção que parece estar correndo desenfreadamente em nosso governo e economia. Certamente começou com alguns indivíduos que estavam dispostos a ceder aos deslizes. Os que estavam em volta deles viram que essa era uma nova norma e passaram a adotar os mesmos padrões. Quando novas pessoas entraram para o time, eles adotaram o que se tornou a cultura padrão do empreendimento. Mesmo os "médicos" que prometem entrar e limpar as coisas acabam infectados pela mesma doença que supostamente ele deveria curar.

Isso não precisa ser em uma escala tão grande também. Considere um estudante que faz download ilegal de músicas. Ele pode ter pensado que ele tinha uma postura moral forte sobre o assunto, mas em seguida vê seus amigos fazendo isso e não serem pegos. Ele pode dizer para si mesmo que vai ser apenas uma música ou um álbum... Mas em seguida toda a sua coletânea de musicas é fruto de downloads ilegais. Seu irmãozinho cresce pensando que é assim que se conseguem novas músicas e influencia seus amigos a piratear coisas também e o comportamento se espalha.

Ariely argumenta ainda, que a corrupção e desonestidade de figuras públicas tem um efeito desproporcional sobre o nível de integridade geral da sociedade, com seus odiosos exemplos se espalhando para muitas pessoas. É por isso que é difícil dizer se os tempos em que vivemos são mais corruptos do que antes ou se a incansável mídia sensacionalista simplesmente atrai mais atenção para o tipo de corrupção que sempre existiu, já que muita atenção pode realmente conduzir a mais corrupção! Nós talvez estejamos presos em um ciclo muito destrutivo.

O que podemos fazer para quebrar esse ciclo?

Divulgar e destacar historia de pessoas que estão fazendo a coisa certa. Ariely argumenta que dar mais atenção a bons exemplos é eficaz porque a moralidade é contagiante da mesma forma que a desonestidade é. "Com exemplos mais marcantes e vívidos de comportamento louvável nos seremos capazes de melhorar o que a sociedade vê como comportamentos aceitáveis ou indesejáveis e, finalmente, melhorar nossas ações". Pense um pouco naqueles comerciais bregas onde uma pessoa vê outra fazendo uma coisa boa, que inspira outra a fazer uma coisa boa e assim desencadeia uma longa cadeia de comportamentos positivos um verdadeiro remake de Pay It Forward (Corrente do Bem, filme norte-americano de 2000 dirigido por Mimi Leder). Fazer o bem não é o tipo de coisa que sai na primeira capa do maior jornal do país, mas nos dias de mídias sociais todos podem fazer sua parte e desempenhar um papel no compartilhar de histórias pequenas, muitas vezes locais, que poderiam passar despercebidas, sobre pessoas que são a própria encarnação da integridade. Dê uma olhada em seus hábitos e desafie-se a passar 30 dias compartilhando e-mail, postagens etc. somente com historias positivas ao invés das que mais frequentemente capturam nossa atenção.

Big brother Cães pastores estão de olho em você. Professores da Universidade de Newcastle decidiram realizar um experimento informal dentro da cozinha da faculdade. A cozinha oferecia chá, café e leite para professores e funcionários e pediu que aqueles que tomassem uma bebida contribuíssem com um pouco de dinheiro para uma "caixa da honestidade" colocada sobre o balcão. Acima da caixa os pesquisadores penduraram por cinco semanas uma foto com imagens de flores e nas outras cinco semanas uma foto com a imagem de dois olhos observando as pessoas que tomavam sua bebida. Quando contaram o dinheiro posto na caixa, os pesquisadores descobriram que as pessoas tinham retrocedido massivamente três vezes mais quando a imagem dos olhos estava pendurada do que quando as flores estavam no lugar.

Ariely queria ver se alguém observando de verdade teria o mesmo efeito de indução de honestidade. Assim, mas uma vez ele voltou para o experimento em que rasgavam as provas das equações. Desta vez, os participantes trabalharam em pares. Enquanto um parceiro resolvia as equações o outro observava e então eles invertiam os papéis. Uma vez terminado os testes eles iriam destruir suas provas juntos e escrever suas notas no mesmo pedaço de papel, somá-las e receber o pagamento com base no desempenho em conjunto. Eles fizeram tudo isso sem falar um com o outro. Qual foi a taxa de trapaça nessa condição de experimento? Zero. Ninguém trapaceou quando sabiam que alguém os estava observando.

Pode-se olhar para o resultado de tais experiências e dizer que é de mais vigilância que precisamos e devemos ter mais câmeras de vídeos, escutas de telefone, inspetores e vigias. Mas estas coisas tornam-se necessárias somente quando uma sociedade falhou no sistema mais efetivo e menos obrigatório: simplesmente assistindo uns aos outros chamando por mais comportamentos imorais. Desenvolvemos em nós uma atitude de "não vi nada, sei de nada" , achando que não devemos nos importar com o que outras pessoas estão fazendo, devemos olhar para o outro lado e cuidar da nossa própria vida. Embora seja um guia altamente motivador do comportamento do ser humano, nos sentimos desconfortáveis e envergonhados pelos erros dos outros.

Adotamos uma mentalidade em nome da liberdade pessoal, no entanto o resultado foi a construção de mais controles externos de redução de liberdade projetados para verificar a desonestidade em uma sociedade com ausência de honra. Tais regras e vigilâncias podem atuar como uma linha de ultima defesa de precaução, mas elas não são realmente eficazes. Quando as pessoas sabem que estão sendo observadas por outras e não tem medo de serem advertidas e punidas pelos seus atos, elas vão tentar tirar o máximo de proveito possível e contornar as regras muitas vezes ineficazes o quando puderem. Aqueles que são honestos (por enquanto) veem a isso tudo e temem que se não comece a falsificar coisas também serão deixados para trás. Logo, mais e mais pessoas sentirão que devem adentrar a uma zona cinzenta de moralidade para ir mais longe (e eles podem estar certos).

Com relação a aqueles que comprometem a sua ética, sabendo o quão longe eles chegam além do limite, Ariely encontrou em seus estudos que quando você está sendo desonesto, você está mais propenso apensar que todos os demais também o são. A confiança se quebra, cinismo e desconfiança aumentam. Sem a graxa da confiança, as rodas da sociedade enguiçam, nada é feito e a sociedade deixa de ser um lugar que proporciona a plena felicidade e prosperidade dos seus membros.

Muito melhor seria se mais pessoas estivessem simplesmente mais dispostas a observar um ao outro e que levantassem e falassem para quebrar este ciclo depressivo. Muito melhor seria se nós nos tornarmos uma nação de "cães pastores", e a vigilância desencorajasse os delitos antes de começarem.

Conclusão

Há uma opinião popular hoje em dia, que ridiculariza a ideia de que as decisões e comportamentos de um indivíduo poderiam ter efeito sobre o comportamento dos outros. Mas o que a pesquisa cientifica sobre o assunto nos diz é que essa opinião é de fato ridícula por não perceber que as ações de cada pessoa tem um efeito cascata que quase sempre sutilmente influencia os outros e influencia a cultura no geral. Nós não podemos vê-lo com nossos próprios olhos ou em tempo real e é claro que ninguém é consciente de como essas ondulações nos afetam. Assim como no experimento inicial ninguém conscientemente pensou: "Esse cara está enganando... ele é muito parecido comigo... eu acho que está tudo certo se eu trapacear nas coisas um pouco mais..." Não. Tudo acontece ao nível do subconsciente. Isto certamente deve nos fazer parar e nos levar a refletir sobre nosso próprio comportamento. Que sinais você esta enviando diariamente? Você é um homem cujo exemplo está fazendo esse mundo melhor... Ou pior?

Parte 4:
O PODER DE LEMBRETES MORAIS

Na primeira parte desta serie, discutimos o conceito de "Pirâmide da escolha" e a maneira pela qual um primeiro passo desonesto pode levar uma pessoa em um caminho de crimes cada vez mais graves que eventualmente os leva longe de seus princípios originais.

No entanto uma ou mesmo varias escolhas ruins não fazem a maioria de nos deslizar pelo caminho da depravação ou da sarjeta da corrupção total. Ao invés disso, muitas das vezes fazemos algumas escolhas ruins, mas logo decidimos nos endireitar e voltar ao caminho.

O que verifica o nosso comportamento e nos leva a parar o processo? O que determina o quão longe nós viajamos pelo caminho da desonestidade antes de decidir voltar?

Parte do problema é o nosso desejo de alcançar o equilíbrio, conforme falamos anteriormente, entre a vontade de se beneficiar de um ato desonesto, mas sendo ainda capaz de se ver como uma pessoa boa. Ao cometer muitos crimes a nossa autoimagem positiva poderá começar a se comprometer e deteriorar nossa consciência, levando-nos a trocar um caminho de volta por um lugar onde não se sinta um crápula.

No entanto, as pessoas parecem chegar a esse ponto de conversão em diferentes distâncias ao longo do caminho da desonestidade e você provavelmente já cometeu deslizes por longos ou curtos períodos durante diferentes momentos da sua vida. Então, nós ainda ficamos com a questão do que poder ser responsável por essas variações.

A resposta, pelo menos parcialmente, são lembretes morais, uma lista de controle que ajuda você a se lembrar de suas normas. O número e a regularidade das lembranças morais em sua vida podem determinar se muito raramente você sai do caminho da integridade, e quando sai volta rapidamente, ou se você se encontra no fundo do poço da imoralidade, sem saber como é que foi parar tão longe.

O poder dos lembretes morais

Em sua pesquisa sobre a natureza da integridade, o professor de psicologia Dan Ariely não queria apenas descobrir o que faz as pessoas mais propensas a enganar, mas também o que funcionou para manter as mesmas pessoas honestas.

Para descobrir o que pode ser um propulsor de integridade eficaz, ele retornou mais uma vez ao seu testado e verdadeiro experimento inicial e a condição que permitia fraude. Desta vez ele dividiu os participantes em dois grupos. Antes de começarem a prova ele pediu a um grupo que pensasse em dez livros que eles tenham lido no ensino médio e para o outro grupo ele pediu que pensassem nos dez mandamentos. Quando os resultados foram computados após o teste, o primeiro grupo havia demonstrado "a mesma típica, mas generalizada trapaça" que havia sido encontrada em condições anteriores do experimento. Mas para o grupo que se lembrou dos dez mandamentos antes de iniciar suas equações, a taxa de fraude foi de 0%. Apesar do fato de ninguém no grupo ser capaz de se recordar de todos os dez mandamentos, um simples lembrete sobre moralidade bem antes da oportunidade de trapacear, efetivamente frustrou a tentação.

O que é interessante é que quando Ariely realizou outro experimento, desta vez com um grupo de ateus autodeclarados jurando sobre a Bíblia antes de iniciar o experimento, eles não enganaram em todas as respostas também. Ariely concluiu que lembretes morais são eficazes mesmo que especificamente não façam parte de seu sistema de crença pessoal.

Ele encontrou resultados semelhantes quando testou a eficácia dos lembretes morais de uma maneira diferente. Desta vez, ele pediu a alunos das universidades de Massachusetts e de Yale que assinassem uma declaração antes de fazer o experimento onde estava escrito "entendo que esta experiência se enquadra nas diretrizes do código de honra Massachusetts / Yale" O ato de assinar a declaração também resultou em zero trapaça e isso foi verdadeiro embora as universidades não tenham realmente um código de honra. O que importa é que o aluno teve que submeter-se a um pequeno ritual em que seu cérebro pensou sobre moralidade bem antes de ter seu senso moral desafiado.

Assim Ariely concluiu essa linha de pesquisa: "recordar padrões morais no momento da tentação pode fazer maravilhas para diminuir comportamentos desonestos e potencialmente preveni-los completamente"

Esquecimento de virtude e a regularidade necessária de lembretes morais

O problema com a natureza humana é que todos nós estamos sujeitos ao que poderíamos chamar de "esquecimento de virtude." Nossos princípios e valores (a visão que temos do homem que queremos ser) não estão o tempo todo na vanguarda de nossa mente sempre prontos para influenciar nossas escolhas. Em vez disso, nossas mentes estão tão ocupadas processando os nossos problemas e preocupações que questões filosóficas acabam armazenadas nas trincheiras de reserva, ao invés de na linha frente. É por essa razão que lembretes morais são tão eficazes e necessários em nossas vidas, pois eles agem como sinais em nosso ambiente que convocam pensamentos sobre os nossos valores do fundo de nossas mentes para frente, onde eles podem influenciar nossos comportamentos e nos levarem a suportar as tentações.

Receber um lembrete moral de vez enquanto não é o suficiente, a regularidade é fundamental. Ariely constatou essa verdade quando teve estudantes de Princeton participando do experimento. Ao contrario dos estudantes de Massachusetts e Yale, Princeton possui seu próprio código de honra. O calouro deve assinar quando ele se matricula e participa de palestras e discussões sobre o código quando chegam ao campus. Querendo saber se o condicionamento em ética teria um efeito de longo prazo sobre o comportamento, Ariely testou um grupo de estudantes de Princeton duas semanas apos firmar o compromisso com o código de honra. Mas os alunos ainda enganaram na mesma taxa media dos outros experimentos. Somente quando eles tiveram que assinar o mesmo compromisso de honrar o código de honra antes do teste, que a trapaça caiu para zero também.

Assim, vemos que se tornar um homem de integridade não é como andar de bicicleta; você não aprende a fazer uma vez e em seguida espera guiar essa convicção ética como se fosse um comportamento automático para o resto da vida. Em vez disso, agir com integridade é algo que você tem que decidir fazer vez apos outra e os lembretes morais reforçam seu compromisso, quanto mais você se depara com esses lembretes, mais fácil é se de manter no caminho correto.

Como estabelecer lembretes morais em sua vida

Acredito que o fato do esquecimento de virtudes ser um padrão universal, se reflete em que todas as religiões do mundo, embora com suas doutrinas variadas, empregam lembretes morais para lembrar as pessoas o caminho reto e estreito. Prescrições para orar várias vezes ao dia e frequentemente estudar uma escritura são verdadeiros chamados para participar regularmente de lembretes morais que ritualmente reforçam a fé e o código de comportamento.

Para os seguidores de algumas religiões, estes lembretes morais podem ser bastante concreto e íntimo como Ariely demonstra ao recontar a historia no Talmud sobre um homem religioso que se torna desesperado por sexo e procura por uma prostituta:

"Sua religião não iria tolerar isso, é claro, mas no momento ele sente que tem necessidades mais urgentes. Uma vez a sós com uma prostituta ele começa a se despir. Quando ele tira a camisa ele vê seu Tzitzit, um cordão usado no corpo com franjas amarradas que servem como meio de lembrança dos mandamentos de Deus. Vendo o Tzitzit ele se lembra do Mitzvá (Obrigações religiosas) e ele rapidamente se vira e sai da sala sem violar suas normas religiosas."
No entanto, lembretes morais não são apenas para os teístas. Os ateus vão argumentar que eles podem ter tanta moralidade quanto qualquer pessoa religiosa. A moralidade de um ateu deve ser guardada, cultivada e fortalecida como qualquer outra pessoa.

Há muitas maneiras de criar lembretes morais seculares que podem ser eficazes para o ateu em busca de integridade, bem como servir de suprimentos adicionais para os teístas que já praticam reforços religiosos tradicionais como orações, estudos de escrituras e cultos mensais. A coisa mais simples a fazer é tentar lembrar conscientemente de seus padrões morais antes de se deparar com uma tentação, assim como os alunos que pensavam sobre os dez mandamentos no experimento. Claro que na vida real, muitas vezes não sabemos quando a tentação virá e no calor do momento podemos não ser capazes ou não querermos invocar os nossos princípios em nossa mente. Por essa razão, você deve cultivar de forma embutida os lembretes morais que você poderá encontrar todos os dias sem muito esforço.

“A verdade é impressa com muito mais força na mente quando acompanhadas por ilustração, exemplos, contos, desenhos ou imagens. Quando a mera declaração de verdade é abstrata, pode falhar em resultados. A ilustração vem como um auxílio da verdade, ela fica impressiona e fixa o pensamento na mente". Henry F. Kletzing, Traits of Character, 1899
Primeiramente eu recomendo pendurar quadros artísticos na parede - especialmente nas portas pelas quais você passa antes de sair para o trabalho ou escola e que os façam lembrar-se dos seus padrões e que homem você quer ser a cada dia. Aqui estão alguns exemplos que temos pendurados em nossa casa:

No sentido horário: 1) Afirmação diária de Benjamim Franklin "Qual boa ação farei hoje?" 2) Ilustração de um livro americano do séc. 19 sobre caráter. 3) Uma canção popular da Segunda Guerra Mundial que me faz lembrar de viver de acordo com os valores do meu avô.

Em segundo lugar, considerar a criação de um manifesto pessoal e lê-lo todos os dias. Você também pode reduzi-lo em um cartão plastificado que você pode carregar em sua carteira ou bolso e rever regularmente.

Outra ideia é usar uma peça de joia ou acessório que te lembre de seus padrões. Este poderia ser um item com simbolismo religioso ou um relógio que seu integro avô te deu. Se você usa-lo todos os dias, porém, poderá acabar se tornando algo trivial. Tire um tempo para manuseá-lo e pensar conscientemente sobre seu significado.

Mesmo algo como uma tatuagem que você sempre olhe, pode servir de lembrete moral de quem você quer ser.

Existem também algumas outras coisas menores e mais simples que você pode fazer para permanecer no caminho. Mantenha post-its em seu computador com algum tipo de frase ou motivação para o dia. Use uma foto de sua parceira/ pessoa amada/ familiar como plano de fundo do seu telefone para que você sempre se lembre da razão pela qual você esta tentando ser um homem de virtude. Carregue em seu bolso um pequeno caderno de anotações para anotar qualquer deslize que você possa cometer, o simples ato de escrevê-la coloca seu cérebro em estado de alerta. Seja criativo nesse esforço e encontre o que funciona para você.

Empregar lembretes morais é especialmente importante quando você estiver longe de casa. Ariely teoriza que estamos mais propensos a se envolver em comportamentos desonestos quando estamos em uma viagem, já que estamos fora de nossa rotina diária, longe dos olhos daqueles que nos assistem e as regras sociais não estão tão claras. Por essas razões enquanto não houver estatísticas sobre quantas vezes a infidelidade ocorre em viagens de negócios e afins, a percepção popular sobre isso é que não está indo muito além dos limites. Então, se você quiser permanecer fiel enquanto viaja mundo a fora não se esqueça de carregar na bagagem alguns lembretes morais. Meditar sobre o significado desses lembretes, pendurar um quadro com dizeres morais no quarto de hotel e não retirar a aliança do dedo - isso não é apenas um movimento literal para sinalizar a sua disponibilidade, é um impulso psicológico para se livrar de um lembrete moral que talvez te impeça de seguir em seu desejo de enganar.

Pressionar o botão Reset

Lembretes morais não vão forçá-lo a fazer a coisa certa. Eles são apenas postos de controle, onde esperamos que você vá ser solicitado a parar e refletir sobre seus valores, o que lhe dá a força para resistir à tentação. Mas você também pode escolher boicotá-los.

Então, o que fazer se você nunca fez lembretes morais para si mesmo ou recentemente optou por não dar ouvidos a eles e já se encontra suficientemente longe no caminho da desonestidade (tendo talvez até chagado ao ponto do "Que se dane" e esteja realmente entregue) e se sentindo realmente infeliz e desejando encontrar novamente um caminho de volta para o homem que você gostaria de ser?

Assim como não é de surpreender que todas as religiões promovam lembretes morais a seus adeptos, também não é de se estranhar que todas as religiões ofereçam oportunidade de arrependimento ou renovação.

O Adventista tem o sábado semanal, os Católicos o sacramento da confissão, os Judeus o Yom Kipur e os Muçulmanos o Ramadã. Esses rituais permitem que as pessoas tenham a chance de apertar o botão de "reset" em sua vida e iniciar tudo outra vez com um novo começo.

Tal como acontece com lembretes morais, o fato de não ser religioso não significa que você não precise de rituais de renovação assim como qualquer ser humano falível. Há eventos seculares que podem ser usados como pontos de virada psicológicos da mesma forma: os aniversários, ano novo, mudanças, términos de relacionamento, novos empregos e assim por diante. E você pode intencionalmente criar seus próprios momentos regulares de renovação como um acampamento em uma viagem de ferias de meio de ano onde você pode tirar um tempo para refletir sobre os erros que fez e comprometer-se a fazer melhor nos próximos seis meses. Crie seus próprios rituais como escrever sobre seus arrependimentos e joga-los na fogueira e os observe queimar.

Conclusão Final

Esperamos que você tenha gostado e extraído algo dessa serie de estudos sobre integridade. A pesquisa de Ariely sobre o assunto não oferece todas as respostas para a natureza da moralidade, mas sentimos que era um ponto de partida para a fascinante criação de uma reflexão pessoal e discussão em grupo.

Enquanto a mídia muitas vezes se concentra em grandes problemas de corrupção dos nossos tempos e os políticos debatem a melhor forma de resolvê-los com as normas e leis em geral, a solução para o estabelecimento de uma sociedade mais honesta pode estar muito mais perto de casa. Se cada homem se comprometer a viver um padrão mais elevado de integridade e eles se esforçarem para não comprometer a integridade até mesmo nas pequenas coisas e estabelecer um exemplo que inspire outros a segui-lo, nossas casas, bairros e nação lentamente se tornarão um lugar melhor para todos. Nosso mundo nunca será perfeito seja individualmente ou socialmente, mas por que não fazer o que pudermos, onde quer que seja para torna-lo um lugar melhor agora e para aqueles que virão depois de nós?
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