Cristo tinha razão: há uma ansiedade inerente ao ser humano, ligada à construção de pensamentos, influenciada pela carga genética, por fatores psíquicos e sociais. Somos a espécie que possui o maior de todos os espetáculos, o da construção dos pensamentos. No entanto, muitas vezes usamos o pensamento contra nós mesmos, para gerar uma vida ansiosa. Os problemas ainda não ocorreram, mas já estamos angustiados por eles. O capítulo 6 de Mateus diz: “Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã... Basta a cada dia o seu próprio mal.” Cristo queria vacinar seus discípulos contra o estresse produzido por pensamentos antecipatórios. Não abolia as metas e prioridades bem estabelecidas, mas queria que os discípulos não gravitassem em torno de problemas imaginários.
Muitos de nós vivemos o paradoxo da liberdade utópica. Por fora somos livres porque vivemos em sociedades democráticas, mas por dentro somos prisioneiros, escravos das idéias dramáticas e de conteúdo negativo que antecipam o futuro. Há diversas pessoas que gozam de boa saúde, mas vivem miseravelmente pensando em câncer, infarto, acidentes, perdas.
O ensinamento de Cristo relativo à ansiedade era sofisticado, pois, para praticá-lo, seria necessário conhecer uma complexa arte intelectual que todo ser humano tem dificuldade de aprender: a arte de gerenciar pensamentos.
Governamos o mundo exterior, mas temos enorme dificuldade em gerenciar nosso mundo interior, o dos pensamentos e das emoções. Somos subjugados por necessidades que nunca foram prioritárias, pelas paranóias do mundo moderno: o consumismo, a estética, a segurança. Assim, a vida humana, que deveria ser um espetáculo de prazer, torna-se um espetáculo de terror, de medo, de ansiedade. Nunca tivemos tantos sintomas psicossomáticos: cefaléias, dores musculares, fadiga excessiva, sono perturbado, transtornos alimentares como a bulemia e a anorexia nervosa, etc. Uma parte significativa dos adolescentes americanos tem problemas de obesidade, e a ansiedade é uma das principais causas desse transtorno.
Cristo tanto prevenia contra a ansiedade como discursava sobre o prazer de viver. Dizia: “Olhai os lírios dos campos” (Mateus 6:28). Queria que as pessoas fossem alegres, inteligentes, mas simples. porém, assim como seus discípulos, nós não sabemos contemplar os lírios do campos, ou seja, não sabemos extrair o prazer dos pequenos momentos da vida. A ansiedade estanca esse prazer. Apesar de o mestre da escola da vida discursar sobre a ansiedade e suas causas, sua proposta em relação ao sentido da vida e ao prazer de viver era tão surpreendente que, chocam a psiquiatria, a psicologia e as neurociências.
Ao longo de quase duas décadas pesquisando o funcionamento da mente humana, compreendi que não há ser humano que não tenha problemas no gerenciamento dos seus pensamentos e emoções, principalmente diante dos focos de tensão. O maior desafio da educação não é conduzir as pessoas a executarem tarefas e dominarem o mundo que as cerca, mas conduzi-las a liderar seus próprios pensamentos, seu mundo intelectual.
Cristo não freqüentou escola, não estudou as letras, mas foi o Mestre dos Mestres na escola da vida. Era tão sofisticado em sua inteligência que praticava a psiquiatria e a psicologia preventiva quando estas nem ensaiavam existir.
(Excertos do livro “O Mestre dos Mestres” de Augusto Cury)