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quinta-feira, 5 de junho de 2008

A arte do caçador é tornar-se inacessível.

"A arte do caçador é tornar-se inacessível. (...) Ser inacessível significa que você toca o mundo que o cerca moderadamente. Não come cinco codornas; come uma. Não danifica as plantas só para fazer uma churrasqueira. Não se expõe ao vento, a não ser que seja imprescindível. Não utiliza e espreme as pessoas até elas mirrarem e sumirem, especialmente aquelas que você ama. (...) Não estar disponível significa que você propositadamente evita esgotar-se a si e aos outros. Significa que você não está faminto nem desesperado, como o pobre filho da mãe que acha que nunca mais vai comer na vida e então devora toda a comida que pode, todas as cinco codornas! Um caçador sabe que atrairá a caça várias vezes para sua armadilha, de modo que não se preocupa. Preocupar-se é tornar-se acessível sem o saber. E depois que você se preocupa, agarra-se a qualquer coisa, em desespero; e uma vez que você se agarra, é provável que se esgote ou esgote a quem ou o que você estiver agarrando. Disse a D.Juan que, em minha vida diária, era inconcebível ser inacessível. Meu argumento era que, para funcionar, eu tinha de estar ao alcance de todas as pessoas que tivessem alguma coisa a ver comigo. Já lhe disse que ser inacessível não significa esconder-se, nem ser misterioso. Não significa tampouco que você não possa lidar com as pessoas. Um caçador usa seu mundo com parcimônia e ternura, sem considerar se o mundo é de coisas, plantas, animais, pessoas ou poder. Um caçador trata intimamente com seu mundo e, no entanto, é inacessível a esse mesmo mundo. Isso é uma contradição. Ele não pode ser inacessível se está ali no seu mundo, hora após hora, dia após dia. Você não entendeu. Ele está inacessível porque não está espremendo o mundo até este perder a forma. Ele o toca de leve, fica o tempo que precisa, e depois passa adiante rapidamente, quase sem deixar marca."

Carlos Castañeda em Viagem a Ixtlan

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